Na sua sessão de boas-vindas neste segundo dia da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), Roberto Antunes, diretor executivo do NEST - Centro de Inovação do Turismo, deixou no ar uma frase que, cada vez mais, tornar-se-á um mandamento para os tempos vindouros. “A sustentabilidade não é uma escolha, é estar ou não estar. E não estar é não ter futuro”, disse no palco BTL Lab.

Apesar de centrado no futuro do turismo, os organizadores desta iniciativa têm consciência de que a mudança não se faz sozinha. “O pensamento sobre o futuro do turismo deve fazer-se fora de quatro paredes. Deve-se pensar em conjunto com a mobilidade, com a digitalização, com os transportes, com a banca. Porque o turismo é isto, um ponto de encontro de todos os setores da sociedade”, defendeu Roberto Antunes.

E como as mudanças não se fazem em vácuo, foi nesse espírito colaborativo que Ana Casaca, Diretora de Inovação da GALP, subiu ao palco para explicar como é que a empresa está a encarar os desafios que uma energética tem pela frente, porque “o mundo está mudar completamente e a área da energia, em particular, tem um enorme desafio”.

Sendo unânime que existe uma necessidade cada vez mais premente de reduzir as emissões de carbono e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, a GALP assumiu como objetivo chegar a 2050 como uma empresa com um portfólio de produtos completamente descarbonizado.

A questão é que “50% das soluções que vamos ter em 2050 ou estão hoje em protótipo ou então não existem mesmo”, explicou. É por isso que, se a “sustentabilidade não é uma escolha”, como frisou Roberto Antunes, a inovação também não, já que tem de estar “no centro e no coração da estratégia deste caminho” a percorrer, disse Ana Casaca.

“É um caminho muito diferente dos anteriores, porque a inovação vem de todo o lado: das startups, dos nossos pares e concorrentes, de empresas mais pequenas e maiores, de associações, da academia, de ecossistemas novos que ainda não existem. Nesse sentido, a cultura [de inovação] torna-se o ponto-chave desta transformação para as empresas do setor energético, e em particular para a GALP”, sintetizou a diretora de inovação da empresa.

Mas quando mencionamos “cultura de inovação”, do que é que estamos realmente a falar? Na GALP, defendeu Ana Casaca, esta não se trata de investigação e desenvolvimento, nem de marketing, muito menos de “fazer coisas giras e sessões de design thinking”. Sem pejo em recorrer a uma definição da Wikipedia, a responsável afirmou que se trata de “pegar em ideias e inovações e aplicá-las no mercado”.

À partida, a ideia seria fácil de conceber e pôr em prática. “Olhamos para o mercado, aprendemos com ele, testamos, testamos, testamos, de uma forma muito rápida, e depois escalamos”, explica Ana Casaca. No entanto, este processo não é tão rápido assim, nem de fácil assimilação numa empresa grande, com as suas idiossincrasias.

É para acelerar esse processo que “a cultura de colaboração, de diversidade e de aprendizagem é importantíssima”, já que o “portfólio a que vamos chegar em 2050 não é o que temos hoje e o caminho para lá chegar vamos ter de descobrir, em parceria com os nossos parceiros, ajudando inclusive a criar outros ecossistemas que não existem hoje”.

Para tal, Ana Casaca diz que a GALP se tem focado em dois pilares, o da “abertura, partilha e colaboração com o exterior” e o da “diversidade”. Dando como exemplo a sua equipa, a diretora de investigação da energética fala em 35 pessoas de 10 nacionalidades que vivem de “Bergen, na Noruega, até ao Rio de Janeiro”. Além disso, alberga “desde psicólogos a doutorados em geologia, e ainda bem”.

Esta diversidade é fulcral porque “é através destas diferentes lentes que conseguimos questionar [a realidade] constantemente e perceber como construir um caminho com os parceiros”.

Um dos primeiros passos dados pela GALP passou pelo lançamento da plataforma Upcoming Energies, iniciativa que convida especialistas de todas as áreas a juntar-se à energética para pensar em soluções de descarbonização. Ana Casaca, de resto, deixou o apelo: “por favor, desafiem-nos. E de uma forma colaborativa vamos criar soluções que ainda não existem e que vamos desenvolver e testar convosco para criar um mundo melhor”.