No meio dos peregrinos, junto à Capelinha das Aparições, uma bandeira do Brasil dá nas vistas. Três mulheres conversam animadamente em volta dela, enquanto esperam pelo início das celebrações da noite de 12 de maio.

Eleonor é quem segura na bandeira, que se agita com o vento. A primeira coisa que diz faz o contexto temporal de si própria e das cores do seu país. "A bandeira vem há 10 anos, eu estou cá há 15 anos".

"Todos os 12 e 13 de maio venho aqui. Venho sempre, sempre, sempre. E levei também essa bandeira ao Vaticano, para a canonização da Irmã Dulce, da Bahia, em 2019", conta.

Este ano, o que a traz a Fátima é muito específico: "Vim pedir pelo Brasil e STOP Putin, paz para a Ucrânia", resume.

Quanto ao seu país, afirma sem hesitar que "o Brasil precisa de governantes sérios. Infelizmente, pelo andar da carruagem... o caos se aproxima. Temos um atual presidente que foi condenado em três instâncias e que não foi absolvido, os processos apenas trocaram de jurisprudência. É lamentável", atira. "Acho que agora o Brasil vai ter quatro anos muito complicados".

"O Bolsonaro não era a cereja do bolo, mas era o que tínhamos para o momento", acrescenta, ao mesmo tempo que adianta que "o ideal, por enquanto, não temos" — mas há esperança. "Temos uma safra agora muito grande de políticos. Bolsonaro resgatou o sentimento patriota do Brasil".

Mas agora o importante é aproveitar as celebrações no Santuário. "Fátima é uma emoção sem precedentes. Estava a comentar que aqui encontro Deus. Conheço muitos santuários mundo fora, mas é aqui que eu encontro Deus".

"Temos a Nossa Senhora aparecida no Brasil, mas Fátima é diferente. Não sei, mas a emoção que eu sinto... quando venho a Fátima geralmente tenho uma caravana parada lá atrás. Venho de madrugada, quatro ou cinco horas de manhã. E é a hora a que Deus está presente", remata.

Ao seu lado, Ana Maria conta que chegou do Recife há apenas um ano. "Vim justamente por causa da mudança política. Infelizmente o nosso país precisa muito de educação, de mais cuidados na saúde. Os nossos governantes não veem isso".

Por isso, chegar a Portugal acaba por ser algo que nunca tinha sentido. "Nunca tinha vivido assim, esta vida de imigrante. Para mim está a ser tudo novo. Há uma resistência, uma resiliência, uma paciência — porque não é fácil. Deixei a minha família, vim sozinha... mas graças a Deus, e com Maria, estou feliz, firme e forte", garante, mostrando-se "sempre esperançosa de dias melhores".

Nesta noite de 12 de maio, está pela primeira vez em Fátima. E não tem dúvidas sobre esta experiência. "Ai, maravilhoso. Já chorei, já sorri de emoção. É muito bom, é indescritível a paz. É como se ela [Nossa Senhora] estivesse aqui connosco".

Também Maria da Conceição não abdica desta sensação de proximidade a Maria e conta que é peregrina habitual nesta data desde 2006, "com exceção na época covid".

Prefere não comentar a situação política do país que deixou, diz que apenas vem agradecer. "Sente-se paz. Nossa Senhora me emociona muito, eu sempre choro muito quando chego. É aqui em Lourdes também. Aquela água de Lourdes é puro milagre".

"Nossa Senhora aqui é tudo. Venho sempre agradecer. Quando chego a 13 de maio, por volta das 17h00, faço o caminho de joelhos, para estar às 18h00 ali em frente a ela. É só para agradecer, não tenho outra coisa a fazer", conclui.