Em comunicado, a plataforma manifesta-se convicta de que 2020 será o ano “decisivo” para que o edifício da antiga saboaria Confiança, propriedade da Câmara de Braga, “cumpra o desígnio para o qual foi expropriado em 2012, dando lugar a um espaço dedicado à cultura e à cidadania”.

Foi para ajudar a cumprir esse desígnio que a plataforma endereçou agora um pedido ao Presidente da República, pedindo-lhe “para que interceda para que a autarquia oiça as pretensões dos bracarenses na defesa do património e na concretização do compromisso político que levou à aquisição do edifício”.

A Saboaria e Perfumaria Confiança abriu em 1894, tendo funcionado até 2005.

Em novembro de 2011, a Câmara de Braga, ainda presidida pelo socialista Mesquita Machado, decidiu, por unanimidade, comprar as instalações da fábrica, tendo sido aventada a hipótese de ali instalar valências culturais.

Posteriormente, em setembro de 2018, a nova maioria PSD/CDS-PP/PPM no executivo e na Assembleia Municipal votou pela venda do edifício, alegando que, por falta de fundos disponíveis para a reabilitação, o imóvel se apresenta em “estado de degradação visível e progressiva”.

O PS e a CDU votaram contra, considerando que o edifício deveria continuar sob a tutela municipal.

Já foram marcadas duas hastas públicas para a alienação do imóvel, com um preço base de 3,87 milhões de euros, mas ambas foram suspensas, por causa de providências cautelares interpostas pela plataforma e pelo Ministério Público.

Em junho, a Câmara obteve luz verde do tribunal para avançar com a hasta pública, mas decidiu esperar pelo desfecho dos dois procedimentos de classificação do imóvel, entretanto encetados.

O presidente da Câmara, Ricardo Rio, disse, na altura, que enquanto aqueles procedimentos decorrerem, "não é do interesse público" voltar a marcar nova hasta pública para a venda das instalações da antiga saboaria.

A Plataforma Salvar a Fábrica Confiança, que representa 21 associações culturais e cívicas de Braga, já apresentou publicamente o projeto Confiança – Centro Cultural e Cívico (Confiança CCC).

“Como a Câmara Municipal de Braga tem afirmado publicamente que não dispõe de verbas para transformar a Confiança num equipamento cultural, o Confiança CCC congrega agentes culturais que querem dinamizar e angariar apoios para assumir a gestão e programação do edifício aberto aos bracarenses”, explica o comunicado hoje emitido.

Entretanto, 65 descendentes e familiares de Manuel dos Santos Pereira e Rosalvo da Silva Almeida, que fundaram a Saboaria e Perfumaria Confiança em 1894, também já lançaram um apelo ao presidente da Câmara de Braga para não alienar o edifício.

A Plataforma Salvar a Fábrica Confiança diz que se trata do último edifício que testemunha o processo de industrialização da cidade de Braga dos finais do século XIX e inícios do século XX.

Defende ainda que, "além da questão patrimonial, a Fábrica Confiança situa-se no local da Via XVII (estrada do período romano entre Bracara Augusta-Asturica Augusta) e numa freguesia (S. Victor) com 31 mil habitantes onde não existe qualquer equipamento cultural municipal".

O regulamento das hastas públicas entretanto canceladas preconizava que as três fachadas do edifício principal teriam de ser integralmente preservadas e que teria também de ser construído um espaço museológico, de franco acesso ao público, com uma área útil nunca inferior a 500 metros quadrados, para evocação e preservação da memória e da história da fábrica, nomeadamente através de imagens, espólios e outros produtos associados.

A volumetria do edifício existente teria de ser mantida, assim como a forma e o desenho das coberturas.