Em comunicado ontem divulgado, o Palácio de Buckingham fez saber que as discussões sobre o futuro do príncipe Harry e da sua esposa, Meghan, que decidiram afastar-se dos papéis oficiais enquanto representantes seniores da família real, estão em discussão inicial.

"Compreendemos o desejo de uma abordagem diferente, mas estes são assuntos complicados que levarão tempo a resolver", disse o palácio. "As conversas com o duque e duquesa de Sussex estão numa fase inicial".

Escreve a BBC que a família real ficou "magoada" com a decisão do casal. Segundo a mesma fonte, os duques não discutiram a posição assumida com membros seniores da família real antes de a anunciar ao mundo.

O facto de o casal não ter consultado a rainha ou o príncipe Carlos causou distúrbios na monarquia, escreve o The Guardian.

Esta mesma ideia está a ser veiculada por vários outros jornais britânicos: "Rainha, príncipe Carlos e William furiosos", escreve o The Sun; "Duques de Sussex abandonam deveres oficiais sem informar Sua Majestade, o príncipe Carlos ou William — a fúria da rainha quando Harry e Meghan disseram: demitimo-nos"; "Eles nem sequer disseram à rainha", escreve o The Daily Mirror; "Harry e Meghan demitem-se de funções oficiais entre palácio dividido: rainha não foi informada antes do anúncio".

Harry e Meghan anunciaram ontem que “depois de muitos meses de reflexão e discussões internas, decidimos fazer uma transição este ano para começarmos a construir um novo papel progressivo nesta instituição. Queremos recuar enquanto membros seniores da família real [do Reino Unido] e trabalhar para nos tornarmos financeiramente independentes”.

Os duques de Sussex vão dividir o tempo entre o Reino Unido e os Estados Unidos da América, de onde é natural a mulher do príncipe Harry, Meghan Markle.

Sobre o futuro adiantam apenas que estão "ansiosos por partilhar todos os detalhes desta entusiasmante etapa em curso, da mesma forma que continuamos a colaborar com Sua Majestade a Rainha, o Príncipe de Gales, o Duque de Cambridge e todas as partes relevantes. Até lá, aceitem por favor a nossa gratidão pelo vosso apoio de sempre", pediram.

A decisão de Harry e Meghan — que apanhou não apenas o mundo, mas a família real de surpresa — deixa várias questões em aberto.

Dickie Arbiter, ex-secretário de imprensa da rainha, levantou algumas, como: quem garante a segurança do casal daqui por diante e a quem cabe pagar pela mesma?

O analista Graham Smith considera que a decisão "levanta questões sobre o futuro na monarquia" e levantará questões entre os contribuintes sobre como será sustentado o casal daqui para a frente. Mais acrescenta que o simples facto de neste comunicado assumirem que não são financeiramente independentes é "incrivelmente grosseiro".

A duquesa de Sussex foi atriz antes de casar com o príncipe Harry, em 2018.

Harry, de 35 anos, é neto da atual regente britânica, Isabel II, e é o sexto na linha de sucessão ao trono.

A imprensa britânica refere que a decisão surge depois de vários meses em que o casal revelou sinais de insatisfação com o papel que lhe estava atribuído e que com o nível de escrutínio que enfrentava.

Em outubro do ano passado, Meghan Markle iniciou mesmo procedimentos legais contra o jornal inglês Mail on Sunday depois de este meio de comunicação ter publicado uma carta manuscrita que tinha enviado ao pai. Ao mesmo tempo, Harry fez uma comunicação pública em que denunciava o que considerou "bullying" contra a mulher. O príncipe foi claro ao dizer que não podia continuar a ser uma "testemunha silenciosa" do "sofrimento privado" de Meghan, acrescentando que o seu "maior receio era que a história se estivesse a repetir", numa alusão ao que aconteceu com a sua mãe, a princesa Diana.

“Chega um ponto em que a única coisa a fazer é manifestar-nos contra este comportamento porque destrói pessoas e destrói vidas. Colocando da forma mais simples, é bullying que assusta e silencia pessoas. Todos sabemos que não é aceitável, a qualquer nível. Não vamos nem podemos acreditar num mundo onde ninguém é responsabilizado por isso".

"Perdi a minha mãe e agora estou a ver a minha mulher a ser vítima das mesmas forças poderosas", afirmou.

Em declarações à BBC, Dickie Arbiter afirmou que a decisão mostra que "o coração de Harry está a mandar na sua cabeça". Considerando que a pressão mediática aquando o nascimento do filho do casal, em maio de 2019, poderá ter desempenhado um papel determinante na decisão agora anunciada, Arbiter comparou o anúncio de hoje ao de Eduardo VIII quando abdicou do trono em 1936 para se casar com a americana Wallis Simpson. "É o único precedente mas não há nada como isto nos tempos modernos", assinalou.

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