Escreve a AFP que Abu Mahdi al-Muhandis era o homem do Irão no Iraque e o inimigo número um dos Estados Unidos naquele país há décadas.

Jamal Jaafar Ibrahimi, de seu nome verdadeiro, era conhecido Al Muhandis (engenheiro em árabe).

Foi visto em público pela última vez esta terça-feira, no funeral dos 25 combatentes pró-iranianos que morreram num ataque aéreo norte-americano.

Abu Mahdi al-Muhandis era conhecido pelas violentas críticas que fazia aos Estados Unidos muito antes da invasão de 2003 e subsequente ocupação do Iraque pelos americanos.

"É o exemplo perfeito de como o Irão criou uma rede de tenentes no Iraque", disse à AFP Phillip Smyth, especialista em grupos xiitas armados. "Está relacionado às principais redes do Irão no Iraque. Não há equivalente, personifica perfeitamente" essas relações, explicou o especialista.

"Inimigo empedernido"

O homem, de barba branca, costumava aparecer em público em uniforme militar. Nasceu em 1953 em Basra, cidade rica em petróleo do sul do Iraque, na fronteira com o Irão.

Nos anos 1980, Al Muhandis, que tinha dupla nacionalidade iraquiana e iraniana e falava farsi, lutou contra o ditador Sadam Hussein a partir do lado contrário da fronteira.

Era, à altura, uma alta patente das brigadas Badr, unidades de combate iraquianas formadas no Irão para combates na guerra contra o Iraque (1980-1988).

Nesse esse período, Al Muhandis foi acusado de envolvimento nos atentados de 1983 no Kuwait contra as embaixadas da França e dos Estados Unidos, chegando a ser condenado à morte por essas explosões.

Em 2005 foi deputado no Parlamento do Iraque no âmbito do novo sistema imposto pelos Estados Unidos após a morte de Saddam Hussein. Durante o mandato contribuiu para a criação no Iraque das brigadas Kataeb Hezbollah, uma facção da Hashd al Shaabi que Washington considera responsável por uma série de ataque recentes contra interesses americanos no Iraque.

Os Estados Unidos acusaram o comandante iraquiano de manter redes de tráfico de armas e de ter participado em atentados contra embaixadas ocidentais e tentativas de assassinatos na região.

Segundo o especialista Michael Knights, é "o inimigo mais empedernido dos Estados Unidos", muito mais que do que o resto das demais fações pró-iranianas no Iraque.

Apesar de ser oficialmente o número dois, atuava como chefe das operações da coligação "trabalhou assiduamente para converter a Hashd Al Shaabi numa organização que nunca esteve totalmente controlada pelo primeiro-ministro ou sob a liderança das forças regulares", segundo o especialista.

Segundo Knigths, Abu Mahdi al-Muhandiss era "o sistema nervoso central" da Guarda Revolucionária.

As promessas de vingança

O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, prometeu hoje vingar a morte do general iraniano Qassem Soleimani e declarou três dias de luto nacional.

"O martírio é a recompensa pelo trabalho incansável durante todos estes anos. Se Deus quiser, o seu trabalho e o seu caminho não vão acabar aqui. Uma vingança implacável aguarda os criminosos que encheram as mãos com o seu sangue e o sangue de outros mártires", afirmou Ali Khamenei, indicou a agência de notícias France-Presse (AFP).

O líder supremo descreveu o general como "símbolo internacional de resistência", de acordo com uma declaração lida na televisão estatal.

Também o presidente do Irão, Hassan Rohani, prometeu vingança:

“Não há dúvida de que a grande nação do Irão e as outras nações livres da região exercerão a sua vingança sobre os criminosos Estados Unidos”, prometeu Hassan Rohani, em comunicado hoje divulgado.

A sua morte “duplicou a determinação da nação iraniana e de outras nações livres da região de enfrentar a intimidação da América e de defender os valores islâmicos”, referiu o Presidente iraniano.

Também os Guardas da Revolução, o exército ideológico da República islâmica do Irão, pediram vingança pela morte de Soleimani.

Um porta-voz deste exército avançou que os Guardas e a “Resistência” vão “iniciar um novo capítulo a partir de hoje”.

“A breve alegria dos norte-americanos e dos sionistas transformar-se-á em luto”, assegurou o porta-voz, Ramezan Sharif, em declarações feitas na televisão estatal.

Esta morte “fortaleceu a nossa determinação de nos vingarmos dos assassinos Estados Unidos e dos opressores sionistas e isso vai acontecer”, acrescentou, antes de começar a chorar.

*Por Maya Gebeily/AFP