“Não está a acontecer nada neste momento”, afirmou o encarregado da comunicação do ACNUR no Bangladesh, Mohamed Abu Asaler, em declarações à agência de notícias espanhola Efe, ao ser questionado sobre a situação após o acordo assinado em 23 de novembro.
Esse acordo, sob a forma de memorando, prevê o início de um processo de repatriação no prazo de dois meses, algo que foi posto em causa na terça-feira no Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma vez que as autoridades birmanesas condicionaram a aceitação do regresso dos rohingya à posse de documentos.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al-Hussein, afirmou na terça-feira que a repressão sistemática e generalizada do exército da Birmânia sobre a minoria muçulmana rohingya tem elementos de genocídio.
Mohamed Abu Asaler assinalou que, apesar de o ACNUR não ter sido diretamente solicitado pelas autoridades, está “em consultas com ambos os Governos” sobre o assunto.
Não obstante, sublinhou que o regresso dos mais de 620 mil refugiados que fugiram da violência no oeste da Birmânia para o vizinho Bangladesh deve ser “voluntário” e “seguro” e realizar-se de forma digna e sustentável.
“As condições não estão reunidas neste momento na Birmânia”, apontou.
Mais de cem dias depois da crise dos rohingya na Birmânia, membros daquela minoria muçulmana apátrida que vão chegando ao Bangladesh denunciam que a campanha de abusos do exército birmanês e o incêndio de casas continua no oeste do país.
De facto, o número de refugiados rohingya continua a aumentar com centenas de novas chegadas diárias ao Bangladesh.
A repressão do exército birmanês contra os ‘rohingyas’, classificada pela ONU como uma “limpeza étnica”, desencadeou uma das piores crises humanitárias do início do século XXI na Ásia.
O atual êxodo dos ‘rohingyas’ começou no final de agosto, quando foi lançada uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.
A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma comunidade apátrida considerada pela ONU uma das mais perseguidas do planeta.
Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais, além de enfrentarem uma série de privações, nomeadamente de movimentos. Em paralelo, o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos.
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