Em comunicado, Carlos Furtado explica que “a decisão estava tomada” e que “a continuada aprovação de iniciativas avulsas na Assembleia Regional só para satisfazer caprichos de partidos que vendem caro a sua incidência parlamentar, é algo intolerável”.

O deputado independente rompeu na quarta-feira o acordo com o executivo regional dos Açores depois de o deputado da Iniciativa Liberal, Nuno Barata, ter feito o mesmo com o acordo de incidência parlamentar que tinha assinado com o PSD.

Apesar da “desvinculação” do compromisso com os partidos do governo, Furtado assegura que continuará “a ser o deputado responsável que os Açores merecem”, garantindo não estar “preso a cargos” e disponível para voltar à “vida anterior” se o representante da República impuser eleições antecipadas.

“Não obstante ter-me desvinculado deste compromisso que foi sendo variadas vezes incumprido pelos partidos que compõem a coligação, vou continuar a procurar ser o deputado responsável que sempre procurei ser. Os Açores merecem a nossa melhor atenção e respeito”, explica.

“Não estou preso a cargos políticos e se eventualmente a consequência dos meus atos for a realização de novas eleições, por imposição do sr. representante da República, regressarei à minha vida anterior, com o sentido de dever cumprido”, prossegue.

O independente, que foi eleito pelo Chega, mas saiu do partido em divergências com o líder, criticou ainda as “recorrentes ingerências dentro dos departamentos do Governo Regional” e as “incómodas nomeações que acontecem todos os dias”.

“O incumprimento de iniciativas acordadas em sede de assinatura do acordo de incidência parlamentar e, para terminar, o ruinoso caderno de encargos para a venda da SATA Internacional, não me deixaram outra solução que não fosse recuar no acordo de incidência parlamentar que assinei em 2020”, justifica.

Furtado diz não abdicar de “valores” e estar “farto de ver políticas avulsas, para satisfazer caprichos de pessoas que só pensam em cargos políticos e protagonismo”.

“Não há dinheiro nem tempo para alimentar este estado de coisas, os Açores estarão sempre primeiro”, afirma.

O Governo dos Açores, de coligação PSD/CDS-PP/PPM, perdeu na quarta-feira o apoio do deputado único da Iniciativa liberal (IL) e do parlamentar independente, deixando de ter maioria absoluta na Assembleia Legislativa Regional.

O deputado da IL rompeu o acordo de incidência parlamentar que tinha assinado com o PSD após as eleições de outubro de 2020, ganhas pelo PS, justificando a decisão com o incumprimento dos sociais-democratas, tendo sido seguido pelo deputado independente (ex-Chega) Carlos Furtado, que também se desvinculou do acordo que tinha com a coligação.

Os três partidos que integram o Governo Regional (PSD, CDS-PP e PPM) têm 26 deputados na assembleia legislativa e contam agora apenas com o apoio parlamentar do deputado do Chega, José Pacheco, somando assim 27 lugares num total de 57, pelo que perdem a maioria absoluta. A oposição tem agora 30 deputados, quando antes tinha 28.

Fonte do gabinete de Pedro Catarino disse na quarta-feira à Lusa que o representante da República para os Açores não vai tomar posição sobre o fim dos acordos parlamentares, deixando a Assembleia Legislativa prosseguir os seus trabalhos e “resolver o problema”.

O PS venceu as eleições legislativas regionais de 25 de outubro de 2020 nos Açores, mas perdeu a maioria absoluta, que detinha há 20 anos, elegendo 25 deputados.

Em 07 de novembro, o representante da República indigitou o líder da estrutura regional do PSD, José Manuel Bolieiro, como presidente do Governo Regional, justificando a decisão com o facto de a coligação PSD/CDS-PP/PPM ter apoios que lhe conferiam maioria absoluta na assembleia legislativa.

Por outro lado, Pedro Catarino sublinhou, na altura, que o PS não apresentou “nenhuma coligação de governo”, apesar da vitória nas eleições.