No Campo São Francisco, em Ponta Delgada, palco das festividades, onde decorrem os preparativos para as festas, Carla Neto, de 27 anos, natural da ilha de São Miguel, considera que “vai ser fácil demais” conciliar as festividades com as eleições europeias, porque está a ponderar não votar – no seu entender, a classe política está “bastante desacreditada”, pelo que afirma não se rever nela.

Os Açores são os ‘campeões’ da abstenção nas eleições europeias, ultrapassando no anterior sufrágio os 85%, apesar de a região ser uma das maiores beneficiárias de fundos comunitários desde 1986 (1,5 mil milhões de euros de euros entre 2014 e 2020).

O concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, foi o que registou no país maior abstenção nas europeias de 2014, com 85,05%, tendo exercido o seu direito de voto 4.099 eleitores de um total de 27.411 inscritos, segundo dados da Direção-Geral de Administração Interna.

Enquanto observava a azáfama dos preparativos para as festas entre os testes de iluminação da igreja e a compra dos círios pelos devotos, para levarem na procissão, João Oliveira, de 85 anos, natural da freguesia de Santa Clara, afirmou à Lusa que não dispensa uma “ida às festas”, o que na sua opinião não invalida o exercício de voto no domingo, de manhã, depois da missa, como sempre faz.

João Ramos, de 82 anos, está emigrado no Canadá, como milhares de açorianos, mas disse que “se pudesse votar votava”.

Já o amigo Franklin Santos, que “todos os anos” vai da ilha Graciosa a Ponta Delgada para assistir às festas do Santo Cristo, só vota “de vez em quando”.

Em São Miguel desde os 08 anos, José Medeiros, residente na freguesia dos Arrifes, referiu que não terá dificuldade em votar, uma vez que a junta de freguesia “fica encostada” à sua casa e consegue lá “dar um salto”.

No Campo de São Francisco, onde já é notória uma presença invulgar de pessoas nos cafés, Lúcia Borges, de 66 anos, indicou não dispensar uma deslocação à baixa de Ponta Delgada para assistir à procissão, depois de “passar a noite com o Senhor” na igreja.

Gostaria que as eleições não tivessem colidido com as festas e admitiu estar a considerar ir votar, tal como a sua irmã, Emília Cabral, que gosta de ser uma “boa cidadã”.

Nas eleições europeias de 2014, o sufrágio coincidiu também com o domingo das Festas do Santo Cristo, que mobilizam milhares de emigrantes, turistas e locais, bem como devotos do resto da região e do país.

Nesse ato eleitoral, estavam inscritos nos Açores 226.885 eleitores, dos quais votaram 44.786, tendo a abstenção atingido os 19,74%.