“Corremos o risco, é real, de que algumas pessoas não vão querer ser vacinadas com a AstraZeneca. Já percebemos isso. Mesmo ao longo do dia de hoje já recebemos alguns contactos nesse sentido. O que é importante é reforçar esta mensagem da segurança que existe relativamente à vacina da AstraZeneca”, adiantou, em declarações à Lusa, o diretor regional da Saúde, Berto Cabral.
A Direção Regional da Saúde (DRS) dos Açores decidiu suspender a administração das vacinas da AstraZeneca no dia 15 de março, pelo “princípio da precaução em saúde pública”, à semelhança do que tinham decidido a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Infarmed.
A retoma da vacinação nos Açores foi anunciada na quinta-feira à noite, depois de a Agência Europeia do Medicamento ter defendido que a vacina da AstraZeneca era “segura e eficaz”, não estando associada aos casos de coágulos sanguíneos detetados que levaram à suspensão do seu uso, e depois de a ‘task force’ para a vacinação contra a covid-19 em Portugal ter tomado a mesma decisão.
Questionado pela Lusa, Berto Cabral não conseguiu confirmar se já foram administradas hoje doses da AstraZeneca, mas disse que as unidades de saúde já foram informadas do levantamento da suspensão e começaram a contactar os utentes.
“Temos já ‘feedback’ de algumas unidades de saúde que já estão a proceder a contactos para retomar esta vacinação”, adiantou.
Os Açores receberam no dia 03 de março o primeiro lote de vacinas da AstraZeneca, com 8.500 doses, mas até à suspensão tinham sido administradas apenas 4.500.
Ao contrário do que acontece com as doses da Pfizer, a região não guarda vacinas para a administração da segunda dose.
“O período temporal entre a primeira e segunda dose na Pfizer é de três semanas, nas vacinas da AstraZeneca esse período é de três meses. É um período muito superior e perante a confirmação de que iríamos receber mais doses durante estes três meses decidimos proceder à vacinação com as 8.500 doses”, justificou o diretor regional da Saúde.
Segundo Berto Cabral, as 4.000 doses da AstraZeneca ainda por administrar representam “um avanço significativo” para que a região consiga cumprir os prazos do plano regional de vacinação contra a covid-19, que prevê a conclusão da primeira fase até ao final de abril.
O diretor regional da Saúde admitiu, no entanto, que as suspeitas de efeitos adversos da vacina possam ter criado alguma desconfiança na população.
“Esse é que é o lado menos positivo do processo, é sentirmos que o medo se instalou nas pessoas e que há pessoas que recusam, por isso é fundamental passarmos uma mensagem de confiança, de segurança”, salientou.
O primeiro lote de vacinas da AstraZeneca a chegar aos Açores está destinado a doentes com patologias prioritárias entre os 50 e os 75 anos, forças de segurança e profissionais de saúde do setor privado, onde se incluem médicos, médicos dentistas, profissionais de farmácia e técnicos de diagnóstico e terapêutica, por exemplo.
“A DGS alterou os critérios e passou a definir que também podiam ser vacinadas pessoas com mais de 75 anos. A região vai alinhar com essa orientação, mas em próximos envios, uma vez que neste momento o trabalho já estava a ser organizado com as regras que existiam até então”, justificou o diretor regional.
Berto Cabral disse que houve já profissionais de saúde e membros das forças de segurança que “recusaram a vacina da AstraZeneca”, mas reiterou que “o risco associado à não vacinação é muito superior”.
“Se há uma decisão de retoma da vacina da AstraZeneca é porque a avaliação foi feita e existem critérios de segurança. É fundamental passar esta mensagem de segurança e confiança às pessoas, relativamente a serem vacinadas com as vacinas da AstraZeneca”, frisou.
O diretor regional sublinhou ainda que não é possível escolher a vacina e que quem abdicar da prioridade “vai ter de esperar por outro momento”.
Os Açores têm atualmente 121 casos ativos de infeção pelo novo coronavírus que provoca a doença covid-19, todos na ilha de São Miguel.
Desde o início da pandemia foram diagnosticados na região 4.049 casos, tendo ocorrido 3.781 recuperações e 29 óbitos. Saíram do arquipélago sem terem sido dadas como curadas 67 pessoas e 41 apresentaram comprovativo de cura anterior.
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