“Não posso deixar de referir que, em relação às conclusões finais do Tribunal de Contas, as considero injustas, sobretudo porque estão fora do contexto na sua esmagadora maioria”, afirmou em entrevista à Lusa Carlos Martins, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente.
Segundo o Tribunal de Contas, o Centro Hospitalar de São João, no Porto, consegue produzir mais cuidados de saúde, com menos tempos de espera e com custos operacionais inferiores do que o Centro Hospitalar de Lisboa Norte.
O Tribunal identificou ainda que a dívida do Lisboa Norte cresceu quase sete milhões por mês em 2017, considerando que se encontrava em falência técnica em 2015 e 2016.
Carlos Martins entende que há um contexto que deve ser enunciado quando se compara o Lisboa Norte com o São João.
“O Centro Hospitalar de São João é uma unidade de referência para o país. Teve uma liderança de 10 anos, estável, com rumo e continuidade ano após anos e que começou quando havia autonomia e capacidade financeira nas instituições. Nós, em contraponto, tivemos três lideranças nos últimos 10 anos. Foi aberta uma parceria público privada na nossa área de influência e perdemos 41,3% da nossa população. Continuámos com 100% dos custos e perdemos 41,3% dos ‘clientes’”, justificou.
Carlos Martins entende que a “perda brutal da atividade”com a abertura do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, fez com que o Centro Hospitalar, em 2013, tivesse “batido no fundo em termos de atividade e de desempenho financeiro”, recordando que havia 300 milhões de euros de dívida.
Para o administrador do Santa Maria, a injustiça das conclusões do Tribunal de Contas reside muito no facto de não ter sido feito “um comparador com um determinado período da história da instituição”.
Carlos Martins diz ter fornecido ao Tribunal de Contas indicadores que demonstram que o Centro Hospitalar “está a recuperar do ponto de vista da atividade e do ponto de vista económico-financeiro”, mas reconhece não ter sido possível recuperar o “passivo herdado”.
O responsável, que está quase no fim do segundo mandato, sublinha ainda que o Centro Hospitalar apresentou “em tempo útil” um plano de reequilíbrio financeiro para o qual nunca teve resposta da tutela.
O plano, que foi apresentado em 2016, pretendia responder ao problema da dívida acumulada, para tentar saldar os 300 milhões de euros.
“Esse plano de reequilíbrio era um plano que não visava um apoio a 100% da tutela. Não era para que nos dessem 300 milhões para pagar as dívidas. Nós assumimos nessa altura que precisávamos de 250 milhões para reequilíbrio financeiro: 100 milhões precisaríamos da tutela, ao longo do mandato liquidaríamos 100 milhões, e depois termos o apoio do Governo para recuperarmos créditos e conseguirmos os 50 milhões que faltavam”, explicou.
Apesar do acumulado de dívida, Carlos Martins diz que a gestão do Lisboa Norte tem sido “equilibrada” e que a partir de 2014 aumentou a atividade dos hospitais e do desempenho financeiro.
Apesar de assumir que em 2017 o Centro Hospitalar continuava em falência Técnica, o responsável acrescenta que foi conseguido um “equilíbrio das contas em exercício” no ano de 2017 e de 2016.
“À data de hoje tenho a consciência tranquila de ter gerido bem o erário público. Voltaria a fazer exatamente o mesmo”, afirmou Carlos Martins.
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