“Aqueles que me escutam, se o mundo me estiver a ouvir, por favor, ajudem-nos, porque as nossas vidas estão em perigo”, declarou no vídeo a jornalista Shabnam Dawran, envergando um véu e mostrando o seu cartão profissional da empresa onde trabalha.

Depois de terem tomado o poder no domingo, após uma rápida campanha militar de dez dias, os talibãs afirmaram que respeitariam os direitos das mulheres, que seriam autorizadas a receber educação e a trabalhar e que a comunicação social seria independente e livre.

Um responsável talibã chegou mesmo a juntar a ação às palavras, sentando-se com uma mulher jornalista para uma entrevista frente-a-frente.

Mas Shabnam Dawran, que trabalha há seis anos para a televisão pública RTA, afirmou que não foi autorizada a ir trabalhar esta semana, ao contrário dos seus colegas masculinos.

“Não desisti após a mudança do sistema e fui para o meu escritório, mas infelizmente não me deixaram entrar, apesar de eu ter mostrado o meu cartão da empresa”, prosseguiu no vídeo.

“Os funcionários masculinos com cartões da empresa foram autorizados a entrar no escritório, mas disseram-me que não podia continuar a exercer as minhas funções, porque o sistema mudou”, acrescentou.

A comunidade internacional e muitos afegãos continuam extremamente céticos em relação às promessas de moderação dos talibãs.

Os afegãos, em particular as mulheres e as minorias religiosas, têm muito presente a memória do brutal regime fundamentalista que os talibãs instauraram quando estiveram no poder, entre 1996 e 2001.

Entre as pessoas que partilharam o vídeo, está Miraqa Popal, um chefe de redação da estação de informação afegã Tolo News.

“Os talibãs não autorizaram a minha antiga colega (…) Shabnam Dawran a ir trabalhar hoje”, escreveu na quarta-feira, numa mensagem na rede social Twitter partilhada milhares de vezes.

No dia anterior, Popal tinha publicado na sua conta do Twitter uma foto de uma apresentadora da Tolo News, com a legenda: “Retomámos as nossas transmissões com apresentadoras hoje”.