Funcionários da Ancine disseram, de forma anónima, à revista Veja, que a exibição do filme estava prevista para a próxima quinta-feira, num evento de capacitação anual dos colaboradores.
Contudo, a Secretaria de Gestão Interna, liderada por Cesar Brasil Gomes Dias, informou internamente que o evento não poderia ser realizado devido a problemas técnicos com o projetor destinado à exibição da obra cinematográfica.
Questionado pelos funcionários, o responsável pela manutenção do equipamento assegurou não haver nenhum problema técnico com o aparelho.
O filme em causa tem no seu elenco a atriz brasileira de 90 anos Fernanda Montenegro que, em setembro último, foi apelidada pelo atual secretário de Cultura, Roberto Alvim, de “sórdida” por “deturpar os valores mais nobres da civilização, denegrindo a sagrada herança judaico-cristã”.
A comunidade artística brasileira tem reclamado da “guerra contra o marxismo cultural” lançada pelo novo Governo de Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro último, e que tem defendido a censura da atividade cultural no país.
O mandatário admitiu em julho a possibilidade de extinguir a Ancine, caso não a possa usar para impor “filtros” nas produções audiovisuais e, em agosto, acrescentou que desejava um presidente na agência com perfil evangélico.
Em setembro, a Ancine suspendeu o apoio financeiro à participação de realizadores brasileiros em festivais estrangeiros, incluindo em seis festivais portugueses.
Já em outubro, foi notícia que o banco público Caixa Económica Federal começou a aplicar um sistema de censura prévia a projetos realizados nos seus centros culturais, por todo o Brasil, exigindo pormenores do posicionamento político dos artistas, o seu comportamento nas redes sociais, a par de outras imposições de caráter polémico, sobre as obras em exibição, como “manifestações contra a Caixa e contra Governo”.
Membros do júri do Festival de Cinema de Marraquexe, em Marrocos, reuniram-se no passado fim-de-semana num ato contra a decisão da Ancine de retirar cartazes de filmes brasileiros da sua sede, no Rio de Janeiro, e de dificultar a sua divulgação no site da Agência.
Com camisolas alusivas aos filmes visados pela decisão da Ancine, personalidades de várias nacionalidades como o brasileiro Kleber Mendonça Filho, diretor de “Aquarius” e “Bacurau”, a atriz britânica Tilda Swinton, atriz francesa Chiara Mastroianni ou o diretor australiano David Michot, participaram na ação de protesto.
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