“Muitas agências de diferentes países, sobretudo daqueles que têm acesso direto a Macau, estão a fazer uma mudança nos seus pacotes para não incluírem Hong Kong”, afirmou a responsável da Direção dos Serviços de Turismo (DST) de Macau, Maria Helena de Senna Fernandes.
Hong Kong e Macau integram um pacote muito popular entre as agências de viagens chinesas, mas os protestos pró-democracia na ex-colónia britânica, desde junho, estão a obrigar a indústria a ajustar a oferta, explicou.
A alteração contempla a inclusão de outras cidades chinesas vizinhas às duas regiões administrativas especiais, ou Macau como destino único, acrescentou Senna Fernandes.
“Estamos a ouvir as agências e guias turísticos” que organizam viagens de grupos turísticos, habitualmente oriundos da China, e “cujo trajeto é Hong Kong-Macau” e “estão a dizer que esta parte está a sofrer bastante impacto”, adiantou.
A diretora da DST, contudo, garantiu que os números até ao final de junho registam, no acumulado, um aumento de 20% no número de turistas. E que os dados preliminares de julho apontam para um aumento “ainda bastante forte”, superior a 10%.
“É difícil dizer que estamos [Macau] a sofrer um impacto grande por causa dos eventos que estão a decorrer em Hong Kong”, afirmou, três dias depois do único candidato a chefe do Governo ter dito que as manifestações estão a afetar o turismo no território e admitiu que, a manter-se a tendência, a cidade pode “enfrentar um grande problema”.
“Há algumas influências. (…) O número de turistas está a reduzir”, afirmou Ho Iat Seng, numa conferência de imprensa que serviu para apresentar o seu programa político.
“Se a situação de Hong Kong continuar assim no segundo semestre, se calhar vamos enfrentar um grande problema”, admitiu.
Questionada sobre se a conclusão de Ho Iat Seng teria por base números da DST, Helena de Senna Fernandes disse desconhecer a fonte do candidato, mas admitiu “um desaceleramento” provavelmente justificado pela diminuição das viagens em grupo, talvez compensada por um turismo mais individualizado.
“Mas o impacto maior será em agosto por causa dos acontecimentos no aeroporto de Hong Kong”, ressalvou, um mês sobre o qual ainda não é possível retirar qualquer conclusão.
As duas regiões administrativas especiais chinesas são ligadas por ‘ferries’ e autocarros, com Macau a beneficiar ainda da entrada de turistas que aterram no aeroporto internacional de Hong Kong, um dos mais movimentados do mundo, que na segunda e na terça-feira foi forçado a cancelar todos os voos.
Os protestos em Hong Kong, que duram há mais de dois meses, têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, com recentes dados a apontarem para um impacto económico na indústria de viagens na ex-colónia britânica.
Na quinta-feira, o Governo de Hong Kong informou que a chegada de turistas caiu 26% no final do mês passado em relação ao mesmo período de 2018 e que continua a cair em agosto, sendo que o setor de viagens representa 4,5% da economia da cidade.
O impacto pode ser tão mau ou pior do que em 2003, aquando do surto da Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS), afirmou o presidente do Conselho da Indústria de Viagens, Jason Wong Chun-tat.
Jason Wong disse que os cancelamentos podem reduzir em 40% as receitas de hotéis em agosto, comparativamente ao mesmo período do ano passado.
Hong Kong vive um clima de contestação social após a apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica.
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