Os manifestantes formaram uma longa fila de tratores agrícolas no centro da capital indiana conseguindo ultrapassar as barricadas da polícia e tentaram entrar no Forte Vermelho numa altura em que se assinalada o dia da República.

Milhares de pessoas usaram bandeiras do sindicato dos agricultores e estandartes religiosos junto ao edifício onde os chefes do governo prestam homenagem aos símbolos nacionais assinalando a independência do poder colonial britânico (1947) e a aprovação da Constituição (1950).

Outros grupos formados igualmente por milhares de pessoas desfilaram a pé enquanto gritam palavras de ordem contra Narendra Modi, sendo em alguns pontos do protesto os manifestantes saudados pelos residentes.

De acordo com a polícia, um manifestante morreu num acidente com um trator que se encontrava na manifestação, mas os agricultores afirmam que o homem foi alvejado pelas forças policiais.

As estações de televisão transmitiram imagens de vários manifestantes com os corpos ensanguentados.

Os dirigentes dos grupos de agricultores dizem que mais de dez mil tratores se juntaram ao protesto.

Há quase dois meses, agricultores – na maior parte sikhs do Punjab e de Haryana – acamparam nos limites da cidade de Nova Deli bloqueando as autoestradas que ligam a capital ao norte do país, num ato de protesto contra o governo.

Os manifestantes estão contra novas leis que, afirmam, vão “privatizar” a agricultura e devastar o setor.

“Nós queremos mostrar a Modi a nossa força. Não nos vamos render”, disse Satpal Singh, um agricultor que conduz um trator juntamente com cinco familiares.

A policia de intervenção usou gás lacrimogéneo e canhões de água para afastar os protestos tendo sido colocados nas ruas grandes camiões e autocarros numa tentativa de impedir o progresso da manifestação em direção ao centro de Nova Deli.

Mesmo assim, milhares de pessoas conseguiram ultrapassar as barreiras policiais.

“Temos de fazer o que estamos a fazer. Não podemos deixar que imponham leis contra os pobres”, disse Manjeet Singh, um dos manifestantes no local.

As autoridades encerraram as linhas de metropolitano e o serviço de Internet assim como o acesso à rede de comnunicações móvel foram suspensos em algumas partes da cidade, para impedir os contactos entre manifestantes.

O governo insistiu em 2020 que as reformas que foram aprovadas no Parlamento no passado mês de setembro vão beneficiar os agricultores e aumentar a produção através do investimento privado.

Em novembro de 2020, os agricultores tentaram organizar marchas de protesto em Nova Deli mas foram impedidos pela polícia.

Entretanto, o governo aceitou elaborar algumas emendas e suspender a implementação das leis durante um período de 18 meses.

Mesmo assim, os manifestantes insistem que só abandonam os protestos quando a legislação for totalmente abolida pela Executivo.

Por isso, está a ser organizada uma marcha de protesto frente ao Parlamento de Nova Deli agendada para 01 de fevereiro, dia em que o Orçamento do Estado vai ser apresentado aos deputados.

Os manifestantes ensombraram várias celebrações do Dia da República, entre as quais a parada militar no centro da cidade na presença do primeiro-ministro.

O Dia da República assinala o aniversário da aprovação da Constituição no dia 26 de janeiro de 1950.

Os agricultores são apenas um dos setores da sociedade indiana a questionar a influência de Modi na vida política do país.

Desde o início do segundo mandato, o governo de Modi tem sido atingido por várias convulsões.

Ao mesmo tempo agrava-se a situação económica enquanto os cidadãos questionam as respostas do governo à crise sanitária provocada pelo SARS CoV-2.

Os agricultores constituem uma parte significativa da população do país sendo que a situação do setor tem vindo a degradar-se ao longo das últimas três décadas.

Segundo dados oficiais, 20.638 agricultores suicidaram-se, em 2018 e 2019, por causa da grave situação económica que enfrentam.

A polémica legislação aprovada no ano passado veio exacerbar a situação dos trabalhadores rurais e dos pequenos proprietários apontados desde sempre como a base da economia do país e que se queixam de estarem a ser ignorados pelo Executivo.

Modi tem acusado repetidas vezes os partidos da oposição de “disseminarem rumores” sobre a situação.

Alguns membros destacados do partido no poder acusam os agricultores de serem “anti-nacionalistas”, um termo que é usado pelo governo contra todos os que se opõem ao primeiro-ministro.

Devindir Sharma, um especialista em agricultura que luta há duas décadas pelos direitos dos trabalhadores rurais do país, afirmou que as manifestações em curso não exigem apenas reformas mas pretendem uma “mudança total da economia da Índia”.

“As desigualdades na Índia estão a crescer e os agricultores estão mais pobres. Os planificadores falharam. Os agricultores só estão a pedir aquilo a que têm direito”, afirmou Sharma.