“Com fome e com frio não se vai a lado nenhum”, afiança à agência Lusa Rui Gouveia, agricultor na zona de Beja, depois de almoçar bifanas de porco preto no pão, feitas num grelhador montado a alguns metros dos tratores que cortam a Estrada Nacional 260 (EN260).
Numa área de campo, a alguns metros da estrada cortada e à qual se acede por um caminho de terra batida, os agricultores prepararam a sua logística. Aí, esta tarde, apesar de já estar calor, arde uma fogueira e está parada uma carrinha que prepara a comida e fornece bebidas frescas.
“Tem que se estar de barriga cheia, senão uma pessoa desiste, vai para casa”, diz, em jeito de brincadeira Rui Gouveia, que chegou à manifestação mesmo à hora do almoço, motivado, não pela comida, mas por juntar a sua ‘voz’ ao protesto.
”Vim aqui para tentar mudar um bocado a política da nossa ministra, para tentar fazer com que ela faça melhor, apesar de ela já não ter tempo para fazer quase nada. Mas, vamos à mesma estar aqui, em convívio, para tentar influenciar Bruxelas e quem manda nas nossas vidas a melhorar as nossas condições”, argumenta.
Reconhecendo que “há imensos problemas no mundo que a Europa está a acompanhar e que tem de financiar”, Rui Gouveia considera que “a questão alimentar e as alterações climáticas também são fundamentais e os agricultores têm de ser ouvidos”.
Também os primos José Luís e Frederico Fialho, agricultores em Barrancos e em outras zonas do Alentejo, aproveitaram a ‘bucha’ disponibilizada no protesto para ganhar forças.
“Almoçámos muito bem, umas carnes assadas que nos serviram e umas cervejas, pão, chouriço, aquilo que normalmente almoçamos quando estamos no campo. Coisas boas que o Alentejo tem para dar”, relatam à Lusa. A quem os serviu a partir da carrinha deram “algum dinheiro para as despesas”.
Luís Candeias, agricultor de Mértola, é um dos voluntários de serviço na carrinha e confirma à Lusa que “cada um paga o que quer”. O dinheiro “não é para dar lucro, mas para comprar mais comida e bebida”, quando terminar o que já têm.
“Vim à manifestação porque estou indignado com isto tudo, com a ministra e com o corte nos pagamentos. E estou aqui atrás de um balcão como voluntário porque nos vamos revezando”, conta.
Bifanas, porco no espeto ou chouriço assado fazem parte da ementa, mas, numa volta que a Lusa fez pela zona das refeições, onde os agricultores se vão juntando em mesas ou em grupos em pé, foi possível observar latas de anchovas, paios, muito pão, torresmos, batatas fritas e outros alimentos ou bebidas.
“Assim, nem temos que sair do protesto para ir ao café” em Vila Verde de Ficalho, relata Luís Candeias, enquanto Mauro Lança, um outro agricultor de Beja sentado ali perto, em frente a pratos e copos já meio vazios, corrobora: “Temos a logística preparada para estar aqui por tempo indeterminado”.
Segundo o agricultor, “quem vai para a guerra avia-se em terra” e, como comida e bebida “não faltam”, os agricultores em Vila Verde de Ficalho, na fronteira com Rosal de La Fronteira (Andaluzia espanhola), podem ficar “o tempo que calhar”. Ou, como sublinha Mauro Lança: “É como a Amália, até que a voz nos doa”.
*Por Rita Ranhola, da agência Lusa
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