“Este ano, certamente naqueles dias mais difíceis, o número de incêndios reduziu-se porque as pessoas adequaram o comportamento”, disse aos jornalistas Tiago Oliveira, no final de uma palestra com uma especialista norte-americana na Fundação Luso-Americana no âmbito do programa de intercâmbios de peritos internacionais.
O presidente da estrutura de missão para a instalação do sistema de gestão integrada de fogos rurais adiantou que, este ano, nos dias quentes e em que se registaram condições para a ocorrência de incêndios, “não houve os incêndios que havia no passado”.
“Houve mais sensibilização à memória da tragédia do ano passado, há um esforço grande no patrulhamento, mas acima de tudo há uma maior consciência das pessoas de que por um gesto negligente podem provocar a morte de alguém”, sustentou, ressalvando que agora é necessário analisar as razões, uma vez que as condições meteorológicas também foram favoráveis.
No entanto, considerou que “a sociedade portuguesa está mais acordada” para o problema.
Referindo-se ao fogo que no início de agosto durante uma semana consumiu mais de 27 mil hectares na Serra de Monchique, o mesmo responsável afirmou que “naturalmente há sempre incêndios que escapam”, mas foram feitos “todos os esforços para que isso não tivesse acontecido”, apesar de haver “muito a fazer no combate”.
Os últimos dados do Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF) indicam que, até 31 de agosto, foram registados um total de 8.953 incêndios rurais que resultaram em 36.165 hectares de área ardida.
Este ano foram registados menos 42% de incêndios rurais e menos de 60% de área ardida relativamente à média anual do período dos últimos dez anos, destaca o ICNF.
O ano de 2018 apresenta, até 31 de agosto, o segundo valor mais reduzido em número de ocorrências e o terceiro mais reduzido de área ardida, desde 2008.
Tiago Oliveira, que está a preparar a entrada em funcionamento, em janeiro de 2019, da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, considerou também que “Portugal continua muito vulnerável”, necessitando a paisagem de ser tratada.
“É preciso tratar a vegetação, reduzir a carga de combustível, os matos que existem por dentro das florestas para que todas as populações estejam menos expostas. Depois é preciso avançar com a gestão florestal e com outras preocupações. Vai demorar décadas, é um trabalho de gerações, mas temos que começar e o país já está a começar”, disse.
Tiago Oliveira defendeu ainda que “há uma necessidade de reforço das instituições públicas e privadas”.
Além do ICNF, que tem que ser “reforçado em termos de competências”, sublinhou que a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) tem também que mudar.
O presidente da estrutura de missão adiantou que a Proteção Civil tem um processo de transformação em curso, mas “não é de um dia para o outro que se mudam as fragilidades identificadas”.
Segundo Tiago Oliveira, a ANPC “necessita de pessoas capazes de absorver conhecimento, com perfis adequados e selecionadas com base no mérito".
“Isto demora tempo. O que a gente está aqui é a tentar remendar as coisas no curto prazo e que as coisas corram melhor. Tem corrido melhor felizmente. Há um longo caminho a percorrer porque o edifício demora tempo a fazer”, concluiu.
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