Apenas seis dias após a retoma do fornecimento de gás da Rússia através do gasoduto Nord Stream 1, a empresa russa Gazprom quer reduzir o volume de 40% para 20% da capacidade máxima, já a partir desta quarta-feira.

Max Gierkink, ‘manager’ no Instituto de Economia da Energia da Universidade de Colónia (EWI), recorda que a Alemanha foi capaz de aumentar os níveis de armazenamento de gás para 66% até agora. No entanto, sublinha que o objetivo de 95% até 1 de novembro será “provavelmente falhado” com as atuais taxas de abastecimento de gás.

“A anunciada redução do fornecimento de gás da Rússia enfatiza a necessidade urgente de uma redução significativa da procura de gás na Europa e na Alemanha”, sustentou o especialista em declarações à agência Lusa.

“A possibilidade de aumentar ainda mais as importações de gás de fontes não-russas para a Europa é limitada. Atualmente, as capacidades de liquefação dos exportadores para o fornecimento de GNL (gás natural liquefeito) estão quase totalmente utilizadas. Países ligados à Europa através de gasodutos não-russos, tais como a Noruega, já estão a fornecer perto da sua capacidade máxima de produção”, alertou.

Na segunda-feira, o holandês TTF (Title Transfer Facility), o contrato de gás natural que serve de referência na Europa, deu um salto de 10%, até aos 176 euros por megawatt-hora (MWh), de acordo com a Bloomberg, depois de serem avançadas novas disrupções no fornecimento de gás russo.

“Mesmo que seja possível evitar a escassez da oferta, o nível de preços na Europa continuará a ser muito elevado nos próximos meses, o que sobrecarrega particularmente famílias com baixos rendimentos e as indústrias intensivas em energia”, avisou Max Gierkink.

É “fundamental” incentivar a redução da procura em todos os setores, aponta o especialista do EWI, ressalvando ainda as muitas limitações na altura de procurar atingir este objetivo, já que, por exemplo, “o aquecimento doméstico na Alemanha está largamente dependente do gás”.

Os preços elevados da energia podem causar graves dificuldades à grande indústria alemã de energia intensiva, frisa Gierkink, ameaçando a Alemanha, a médio prazo, enquanto localização industrial.

“As indústrias intensivas em energia poderiam ter um incentivo para deslocalizar os seus locais de produção para outras regiões com preços de energia mais baixos, tais como a Ásia ou os EUA”, destacou.

O governo alemão aprovou recentemente uma lei para reativar as centrais elétricas a carvão encerradas, e a manutenção das centrais nucleares voltou ao debate político esta segunda-feira.

O liberais do FDP, que integram a coligação que forma o governo, com os Verdes e o Partido Social Democrata (SPD), quer estender a vida útil das centrais nucleares até à primavera de 2024.

“Este é o período em que estamos ameaçados de escassez de energia. Por isso temos de estar preparados para isso”, revelou o porta-voz de política energética do grupo parlamentar do FDP, Michael Kruse, em declarações ao jornal “Bild”.

Os companheiros de coligação estão céticos, mas o executivo garantiu que decidirá “nas próximas semanas” sobre a possível extensão da vida dos três reatores nucleares ainda em funcionamento, quando está ainda previsto serem fechados definitivamente no final do ano.