Atualmente, "há 20 municípios e sete entidades envolvidas" no projeto de candidatura da produção artesanal de vinho de talha à classificação de Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO” (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), afirmou Rui Raposo, presidente da Câmara de Vidigueira, que lidera o processo.

Segundo o autarca, a autarquia já assinou um protocolo de cooperação com outros 19 municípios alentejanos e sete entidades interessados em participar no projeto, que visa "salvaguardar" a produção artesanal de vinho de talha.

Os subscritores do protocolo vão começar a trabalhar para, numa primeira fase, se elaborar e apresentar a proposta de inscrição da produção artesanal de vinho de talha no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial e, numa segunda fase, se elaborar e apresentar a candidatura a Património da Humanidade junto da UNESCO, num processo que deverá durar "dois a três anos", disse.

Na primeira fase, será feito um mapa das zonas onde há produção artesanal de vinho de talha e um trabalho de investigação sobre a prática de vinificação.

Os municípios envolvidos vão definir medidas que irão constar no plano de salvaguarda da produção artesanal de vinho de talha a incluir no processo de candidatura a Património da Humanidade.

Além de Vidigueira, a candidatura envolve os municípios de Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo, Moura e Serpa, no distrito de Beja; Borba, Estremoz, Évora, Mora, Mourão, Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo, no distrito de Évora; e Arronches, Campo Maior, Elvas e Marvão, no distrito de Portalegre.

O Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, a Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo (CVRA), a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo, a Direção Regional de Cultura do Alentejo, a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e a Vitifrades - Associação de Desenvolvimento Local são as entidades envolvidas.

Segundo a CVRA, em Portugal, "o Alentejo tem sido o grande guardião" do vinho de talha e tem "sabido preservar" a prática de vinificação criada pelos romanos, com mais de 2.000 anos.

"Seguindo os processos mais clássicos ou adotando alguma modernização, o vinho de talha mantém-se como um produto único, sublime representante da milenar cultura do vinho no Alentejo", frisa a CVRA.

Ao longo dos tempos, a técnica de produzir vinho em grandes vasilhas de barro, conhecidas como talhas, foi passada de geração em geração, "de forma quase imutável".

Não há apenas uma forma de fazer vinho em talhas, já que a produção varia ligeiramente consoante a tradição local, mas, segundo a forma mais clássica, que "pouco mudou em mais de 2.000 anos", as uvas esmagadas são colocadas dentro de talhas e a fermentação ocorre espontaneamente, explica a CVRA.

Câmara de Vidigueira cria centro para promover e valorizar vinho de talha

A Câmara de Vidigueira, no Alentejo, vai criar um centro interpretativo em Vila de Frades para promover e valorizar o vinho de talha enquanto património e fator de desenvolvimento económico e turístico do concelho, foi hoje anunciado.

Segundo o presidente do município, Rui Raposo, a autarquia, no distrito de Beja, acredita que a produção artesanal de vinho de talha pode ser um "catalisador" para criação de novas empresas e atividades culturais e criativas para "tirar partido do vasto espólio temático" associado e existente no concelho.

O Centro Interpretativo do Vinho de Talha irá nascer num edifício que o município vai construir de raiz no centro de Vila de Frades, situada no concelho e que se assume como "capital do vinho de talha", disse o autarca à Lusa.

A obra de construção do edifício do centro vai implicar um investimento de cerca de 400 mil euros, que será cofinanciado em 60% por fundos comunitários, sendo a verba restante assegurada pelo município.

De acordo com o autarca, a obra, que tinha começado no verão, mas teve de parar em novembro de 2017, vai recomeçar no início de setembro e deverá terminar no final deste ano.

A empreitada, que tinha sido lançada pelo anterior executivo, começou sem o visto do Tribunal de Contas (TdC) e teve de parar porque a emissão do visto foi recusada, explicou.

Por isso, continuou, o município teve de iniciar um novo procedimento para adjudicar a obra, que incluiu um novo concurso público, e aguardar pelo visto do TdC.

Segundo Rui Raposo, a obra já obteve o visto e foi adjudicada ao mesmo empreiteiro que ganhou o novo concurso e tinha ganhado o anterior e iniciado a obra.

O executivo do município, eleito em 2017, está "a analisar o que estava projetado" para o centro pela anterior gestão autárquica e "a estudar" para depois "decidir quais as melhores ofertas e apostas" da infraestrutura, afirmou.