Numa carta enviada da prisão onde cumpre uma pena de nove anos, divulgada pelos seus apoiantes, Navalny disse que o seu caso desmascarou o “caráter criminoso” e a “disfuncionalidade e fracasso” do regime de Putin, influenciando “todo o sistema político na Rússia”.

Segundo o líder da oposição russa, citado pela agência espanhola EFE, o sistema abandonou toda a dissimulação para se tornar um “regime repressivo e autoritário, sem mais restrições”.

“Esta é a segunda vez que celebro o meu segundo aniversário. O dia em que tentaram matar-me, mas por alguma razão eu não morri”, disse, referindo-se ao facto de ter sobrevivido ao envenenamento.

Navalny foi hospitalizado em estado grave em 20 de agosto de 2020, com suspeita de envenenamento, depois de se ter sentido mal durante um voo da cidade siberiana de Tomsk para Moscovo.

O avião fez uma aterragem de emergência em Omsk, na Sibéria, devido ao agravamento do estado de saúde de Navalny.

Dois dias depois, as autoridades russas autorizaram a sua transferência para a Alemanha, onde foi tratado na clínica universitária Charité de Berlim, durante 32 dias, por envenenamento por agentes nervosos.

Após ter passado algum tempo na Alemanha, regressou à Rússia em janeiro de 2021, mas foi detido ao chegar a Moscovo.

O advogado e político de 46 anos, cujo nome Putin evita pronunciar, cumpre atualmente uma pena de prisão por uma alegada fraude.

Na carta divulgada hoje, Navalny lembrou que as autoridades russas não iniciaram, até agora, qualquer processo criminal pelo seu envenenamento com um agente químico militar do grupo “novichok”.

Disse não compreender a posição das autoridades, que ou negam que tenha sido envenenado ou dizem que foi envenenado com “novichok” por serviços secretos ocidentais com objetivos provocatórios.

“As autoridades ao mais alto nível, a começar por Putin, defendem firme e simultaneamente estas duas versões”, escreveu na mensagem.

Navalny disse que “quase todos os membros do grupo de assassinos” que o tentaram matar foram identificados.

Em 14 de dezembro de 2020, os ‘media’ Bellingcat, Der Spiegel e CNN, juntamente com Navalny, denunciaram que um comando de peritos em armas químicas estava envolvido no seu envenenamento.

“Todos eles são membros do FSB [Serviço Federal de Segurança]. Ficou provado que estiveram envolvidos em várias tentativas falhadas de envenenamento (Dmitry Bykov, Vladimir Kara-Murza) e vários assassinatos”, disse Navalny na carta publicada hoje.

De acordo com a oposição, nenhum dos agentes do FSB foi levado à justiça.

“Talvez a exceção seja Konstantin Kudriatsev, o infeliz químico que me contou ao telefone todos os detalhes do ataque. Ele desapareceu e parece que foi simplesmente morto”, acrescentou.

Navalny falou com Kudriatsev fazendo-se passar por membro do Conselho de Segurança russo e divulgou a gravação da conversa telefónica nos meios de comunicação social.

O segundo aniversário do envenenamento do opositor russo também foi assinalado pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, e pelo chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que apelaram para a sua libertação e para a investigação do caso.

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