“O debate existe em Portugal, em Espanha é preciso construi-lo”, disse Pedro Soares (Bloco de Esquerda) no final de um encontro com o presidente da Comissão de Energia do Congresso dos Deputados (parlamento) espanhol, Ricardo Sixto, da Esquerda Unida (comunistas).

O bloquista manifestou a esperança de que o encontro “tenha consequências futuras”, depois de ter sensibilizado Ricardo Sixto para a questão de Almaraz, que em Portugal tem uma “grande convergência” de pontos de vista quanto aos perigos da energia nuclear.

"Quando há um acidente nuclear não há fronteiras. A questão tem de ser encarada como uma questão ibérica e não como uma confrontação entre dois países", defendeu Pedro Soares.

Por seu lado, o deputado espanhol assegurou que iria transmitir a “profunda preocupação” dos portugueses aos restantes membros da Comissão da Energia do parlamento do país vizinho e não descartou a possibilidade de membros do Congresso dos Deputados se deslocarem a Lisboa para discutir a questão.

A posição de Portugal contra a construção de um aterro de resíduos nucleares na Central de Almaraz, a 100 km da fronteira entre Portugal e Espanha, tem sido quase completamente ignorada no país vizinho.

Pedro Soares e Ricardo Sixto defenderam que a matéria deve ser abordada na próxima cimeira entre os dois países, que se deverá realizar em abril no Norte de Portugal.

Portugal entregou na segunda-feira à Comissão Europeia, em Bruxelas, uma queixa relacionada com a decisão espanhola de construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz, sem avaliar o impacto ambiental transfronteiriço.

O Governo português defende que, no projeto de um aterro de resíduos junto à central nuclear de Almaraz, "não foram avaliados os impactos transfronteiriços", o que está contra as regras europeias.

De acordo com o Boletim Oficial do Estado (BOE), uma resolução de 14 de dezembro de 2016, da Direção-Geral de Política Energética e Minas, o Governo espanhol "autoriza a execução e montagem da modificação do desenho correspondente ao Armazém Temporário Individualizado (ATI) da Central Nuclear Almaraz, Unidades I e II".

O processo para a construção do ATI teve início em 18 de novembro de 2015, quando o diretor-geral das Centrais Nucleares de Almaz-Trillo (CNAT) solicitou a autorização para a construção do armazém de resíduos nucleares, com o objetivo de resolver as necessidades de armazenamento do combustível gasto nos reatores.

A funcionar desde o início da década de 1980, a central está situada junto ao Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

A decisão de Espanha deu origem a protestos, tanto da parte das associações ambientalistas, portuguesas e espanholas, como dos partidos políticos na Assembleia da República.

Os ambientalistas consideram que a construção do armazém indicia um prolongamento da vida da central nuclear de Almaraz, que tem tido vários problemas e já não terá, dizem, condições para continuar a funcionar além do prazo previsto de 2020, representando um perigo para as populações.

O Governo espanhol deverá até daqui a cerca de um ano decidir se prolonga a atual licença de exploração da central de Almaraz que caduca em 2020.