Os resultados da investigação, coordenada por Miguel Pinto, Filipe Martinho e Miguel Pardal, do Marine Research Lab do Centro de Ecologia Funcional (CFE), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, indicam que, com “o aumento da temperatura do mar” e a “variabilidade atmosférica e oceânica, medida pelo índice da Oscilação do Atlântico Norte (NAO, na sigla em inglês)”, os robalos nascem cada vez mais tarde, revela a UC.
“O que pode ser prejudicial devido à possível quebra da sincronia entre as larvas recém-eclodidas e a sua fonte preferencial de alimento – zooplâncton” –, afirma Filipe Martinho, citado numa nora da UC enviada hoje à agência Lusa.
De igual modo, acrescenta, “uma eclosão mais tardia poderá coincidir com os fenómenos de afloramento costeiro típicos da primavera e verão, que podem impedir as larvas de chegar aos estuários e assim completar o seu ciclo de vida”.
“Em anos de NAO negativo, reconhecidos como períodos de produtividade oceânica muito reduzida, o atrasar da eclosão poderá contribuir para uma elevada mortalidade dos juvenis, com efeitos negativos nos ‘stocks’ pesqueiros a longo prazo”, salienta o investigador.
Este estudo, publicado na revista científica Marine Environmental Research, avaliou a variabilidade interanual das datas de eclosão e crescimento do robalo na costa portuguesa, ao longo de um período de sete anos (2011-2017).
Para conseguir esta análise, uma vez que o acesso a amostras no ambiente marinho é bastante complicado, foram utilizados os otólitos de robalos juvenis, permitindo assim maximizar a informação obtida sobre as espécies ao longo da sua vida.
No caso da espécie em estudo, a “deposição de um novo anel a cada dia permitiu determinar com precisão a sua data de nascimento, a sua idade, bem como a taxa de crescimento diária, obtida através da distância medida entre cada anel”, refere Filipe Martinho.
A equipa observou ainda que o crescimento dos robalos é bastante rápido nos primeiros dias de vida, “suportando a teoria de Johan Hjort (1914) relativa à existência de um período crítico de crescimento que irá determinar o sucesso (ou não) de uma coorte. Ou seja, quanto mais crescem nos primeiros dias de vida, maior a probabilidade de alocar energia para nadar ativamente, procurar alimento, fugir a predadores, e claro, de conseguir fazer a migração entre a zona costeira e os estuários”, acrescenta o investigador do Departamento de Ciências da Vida da UC.
Segundo os autores do estudo, os resultados obtidos têm várias implicações para a gestão das pescas num contexto de alterações climáticas.
“Ao sabermos que aumentos na temperatura da água do mar irão levar a que a eclosão desta espécie seja cada vez mais tarde, e quais as consequências desse atraso em termos da conectividade mar-estuário e na dinâmica populacional, poderemos prever o impacto que o aquecimento global irá ter nos ‘stocks’ desta espécie e contribuir para o desenvolvimento de medidas de gestão adequadas”, notam.
Por outro lado, a relação com a temperatura da água do mar fornece informações “preciosas acerca da capacidade (ou não) desta espécie lidar com as alterações climáticas”, realçam ainda os investigadores da UC, concluindo que, de facto, “o robalo é uma espécie muito apreciada pelos consumidores, o que tem contribuído para o seu declínio generalizado em estado selvagem na Europa”.
Em Portugal, “a estrutura dos ‘stocks’ desta espécie é virtualmente desconhecida, pelo que, mais do que nunca, é necessário desenvolver medidas de gestão e proteção direcionadas a esta espécie”.
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