“As alterações climáticas têm um impacto devastador sobre os meios de produção, sobre a atividade agrícola, que sobretudo estas comunidades indígenas dedicam-se à atividade agrícola”, disse António Vitorino, em entrevista à Lusa em Brasília, no último dia da sua visita oficial ao Brasil.
“É preciso incluir na agenda do combate às alterações climáticas esta dimensão humana, não é uma dimensão humana para daqui a 10, 15 anos é uma dimensão humana para pessoas que já sofrem dos impactos hoje”, frisou Vitorino.
Estas declarações surgem depois de uma visita do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado passado, para observar a situação de saúde nas aldeias Yanomami, localizadas nos estados do Amazonas e Roraima, na fronteira com a Venezuela.
O território Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, com quase 10 milhões de hectares, é habitado por cerca de 27 mil indígenas que, segundo o novo Governo, sofreram nos últimos anos uma falta de assistência e abandono em questões de saúde e também foram assediados por mineradores ilegais que operam na Amazónia.
“A situação que atinge a componente indígena Yanomani é muito preocupante”, considerou António Vitorino, acrescentando que os vários ramos das Nações Unidos no país estão a preparar uma proposta para apresentar ao Governo brasileiro de forma a apoiar estas pessoas.
Além da fome e da degradação dos rios da região devido ao mercúrio usado na mineração ilegal, também foram detetados vários casos de malária e outras doenças.
O primeiro passo de ajuda, disse o responsável português da OIM, passa por uma “componente médica muito importante”.
“Garimpo ilegal e a concentração de mercúrio tem tido um impacto devastador sobre a comunidade indígena e o número de 570 crianças mortas é um número aterrador”, sublinhou.
Tanto a Amazónia, como o nordeste brasileiro sofrem “profundamente” com o impacto “pelas alterações climáticas”, disse o diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, recordando que o Nordeste brasileiro é das regiões que mais risco corre de “tempestades, ciclones, tufões e inundações que alteram o modo de vida das comunidades e os seus meios de subsistência”.
“Por ano há cerca de 21 milhões de pessoas que são forçadas a deixar o sítio onde vivem por causa das alterações climáticas no mundo inteiro”, avançou António Vitorino, acrescentando que no Brasil o número de pessoas deslocadas por causa das alterações climáticas “cifra-se na ordem dos largos milhares”.
Por essa razão, enfatizou o responsável, é necessário “prevenir os efeitos mais perversos das alterações climáticas” e “isso só se pode fazer em colaboração com as comunidades”.
É por isso crucial que se altere, em vários lugares do globo, o tipo de produções agrícolas e repensar os circuitos de captação e distribuição da água.
“Encontrar alternativas para que as pessoas tenham meios de vida para continuarem a viver nesses sítios. É isso que nós nos propormos a fazer juntamente com outras agências das Nações Unidas”, afirmou Vitorino, avisando que o “número de pessoas que vivem em insegurança alimentar está constantemente a crescer”.
“É importante preparar as comunidades para esse novo cenário de maneira a garantir que elas tenham o apoio necessário”, concluiu.
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