“Deu um contributo de grande relevância para a governação e para as políticas públicas da nossa democracia, tendo servido como ministro de Portugal em sete governos, tendo como primeiros-ministros Mota Pinto, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Mário Soares, Cavaco Silva e Santana Lopes, desbravando e consolidando a modernização do país e a integração europeia”, lê-se na mensagem colocada por Marcelo Rebelo de Sousa no “site” da Presidência da República.

Marcelo recordou Barreto como “um amigo”, com “uma vida ao serviço de Portugal”, engenheiro civil de formação, que se notabilizou “como gestor e como governante, colocando o melhor do seu saber, talento e trabalho ao serviço do desenvolvimento da economia portuguesa, em áreas como a indústria, o comércio, a agricultura e as pescas”.

“Conduziu em diversos momentos as negociações setoriais, de extraordinária exigência técnica e política, com a União Europeia, e representou Portugal sempre com o mais elevado sentido de Estado”, concluiu.

Filiado no PSD, Álvaro Barreto foi ministro de sete governos constitucionais, com Francisco Sá Carneiro, Carlos Alberto Mota Pinto, Francisco Pinto Balsemão, Mário Soares, Cavaco Silva (duas vezes) e Pedro Santana Lopes.

Na nota em evocou “o seu legado”, a direção do PSD, liderada por Rui Rio, recordou ter tutelado, ao longo da sua carreira, seis pastas diferentes, da Indústria, da Agricultura, da Integração Europeia, do Comércio e Turismo, das Atividades Económicas e do Trabalho.

A última vez que esteve no Governo foi de 2004 a 2005, como ministro de Estado, da Economia e do Trabalho, e “número dois” de Pedro Santana Lopes, que liderou o executivo que se sucedeu à saída de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia.

Nascido em 01 de janeiro de 1936, em Lisboa, Álvaro Roque de Pinho Bissaia Barreto teve a sua formação profissional como engenheiro civil, no Instituto Superior Técnico.

Aos 23 anos teve o seu primeiro trabalho enquanto gestor, na Profabril, tendo posteriormente figurado nos Conselhos de Administração da Lisnave e da Setenave, durante nove anos até 1978.

Na política, estreou-se no Governo à frente de ministérios como o da Indústria e Tecnologia (1978/79), Indústria e Energia (1980), Integração Europeia (1981), Comércio e Turismo (1983) e Agricultura (1984/90).

Depois de ter sido deputado à Assembleia da República pelo PSD, Álvaro Barreto dedicou 14 anos à gestão de empresas, passando pela TAP, pela Sonae e pela Portugália, entre outras, antes de regressar em 2004.

Também desempenhou cargos de direção em empresas como a mineira Somincor, a Tejo Energia, a Nutrinveste (grupo José de Mello), a Portugália e a Portucel.

Na legislatura entre 1991 e 1995, durante o segundo Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, Álvaro Barreto foi deputado no parlamento.

No plano político, enquanto deputado, sobretudo na segunda metade dessa legislatura (1993/1995), destacou-se como um dos principais críticos da situação interna do seu partido e do executivo, a ponto de ter dito, numa entrevista, ser "necessário remodelar e reestruturar o Governo".

Cavaco Silva destaca a "elevada competência" do "negociador exímio"

O ex-Presidente da República Cavaco Silva lembrou a "elevada competência, capacidade de negociação e coragem" de Álvaro Barreto, considerando que a competitividade da agricultura portuguesa "muito deve" ao seu ex-ministro.

Numa nota enviada à agência Lusa, Aníbal Cavaco Silva não poupa elogios ao seu ex-ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação e seu colega no executivo de Sá Carneiro como titular da Indústria e Energia. "Foi com pesar que tomei conhecimento da morte do Eng.º Álvaro Barreto a quem é devido um reconhecimento pelos serviços prestados ao nosso País.

Além das suas qualidades como gestor empresarial, Álvaro Barreto foi um homem que muito serviu Portugal no exercício de funções ministeriais", começa por sublinhar o ex-chefe de Estado.

Cavaco Silva assinala que, "como um dos responsáveis pelo processo de negociação da adesão de Portugal à CEE e, depois, como ministro, foi um negociador exímio na defesa da agricultura portuguesa".

"Foi incansável e de grande firmeza nas negociações da reforma da Política Agrícola Comum e dos fundos estruturais, de modo a assegurar a reconversão e a modernização da nossa agricultura e defender o rendimento dos nossos agricultores", salienta o ex-primeiro-ministro para concluir de seguida: "Se hoje a nossa agricultura goza de competitividade em face do espaço europeu, muito deve ao trabalho de Álvaro Barreto".

O ex-chefe de três governos recorda o tempo em que Álvaro Barreto foi seu colega no governo de Sá Carneiro como ministro da Indústria e Energia "no tempo da crise energética mundial em que o preço do petróleo subiu cerca de 80% e muito se empenhou na defesa da melhoria da eficiência na utilização da energia".

Lembra também que Barreto fez parte dos seus dois primeiros governos, entre 1985 e 1991, como ministro da Agricultura, Pescas e Alimentação e desempenhou funções com "elevada competência, capacidade de negociação e coragem".

"Desempenhou um papel decisivo na estabilização da posse e da exploração da terra, pondo fim à conflitualidade e à incerteza geradas pelas ocupações, expropriações e nacionalizações após o 25 de Abril de 1974. Muito contribuiu para melhorar o clima de confiança dos empresários agrícolas, essencial para enfrentar as exigências decorrentes da integração europeia", acentua.

Além das "palavras de reconhecimento", Cavaco Silva dirige à família de Álvaro Bissaya Barreto "uma palavra de pesar na hora da sua partida".

"Inteligente, rápido, com sentido de humor"

O ex-primeiro-ministro e militante número 1 do PSD Francisco Pinto Balsemão evocou Álvaro Barreto, que hoje morreu aos 84 anos, como alguém "inteligente, rápido, polifacetado, com um grande sentido de humor".

“Inteligente, rápido, polifacetado, com um grande, e por vezes cáustico, sentido de humor, excelente desportista", recordou o fundador do semnário Expresso e da SIC, numa declaração enviada à Lusa.

O fundador do PSD lembrou que conheceu Álvaro Barreto no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, tendo convivido "tanto na vida privada", porque eram vizinhos em Cascais, como "na política", nos Governos de Sá Carneiro e de Pinto Balsemão, e como "militante do PSD".

Pedro Siza Vieira destaca “competência e empenho” do ex-ministro

O ministro da Economia destacou hoje a “competência e empenho” de Álvaro Barreto, lembrando ainda que o gestor assumiu, mais que uma vez, a pasta da Economia “em momentos difíceis”.

Em comunicado, Pedro Siza Vieira lembrou a “longa e distinta carreira” de Álvaro Barreto, que, segundo o governante, se distinguiu “pela sua competência e empenho” em todos os lugares onde trabalhou.

“Como ministro da Economia, não posso deixar de recordar que o engenheiro Álvaro Barreto, por mais de uma ocasião, teve a responsabilidade por esta pasta, designadamente em momentos difíceis da nossa história económica”, acrescentou.