“Nas Casas da Criação deve existir uma biblioteca de coisas que as pessoas possam aprender a usar e, depois, usar, sob supervisão de uma equipa de programação e curadoria, como instrumentos musicais, material de gravação áudio e vídeo, impressoras 3D, impressoras 2D, máquinas de costura, entre tantas outras coisas”, defendeu a deputada única do Livre em Lisboa, Isabel Mendes Lopes.

Na reunião da assembleia municipal, a proposta para a conceção do programa Casas da Criação foi aprovada com os votos contra de PSD, Iniciativa Liberal (IL), MPT, PPM, Aliança, CDS-PP e Chega e os votos a favor de BE, Livre, PEV, PCP, PS, PAN e dois deputados independentes do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre).

“Temos de investir em dar condições para que mais pessoas experimentem e façam cultura”, afirmou Isabel Mendes Lopes, indicando que a proposta de Casas da Criação de Lisboa pretende disponibilizar espaços culturais de acesso público e gratuito destinados à promoção e à fruição da cultura, com especial enfoque na produção e criação cultural.

A deputada do Livre disse que as Casas da Criação podem funcionar “em articulação com os espaços já existentes”, incluindo aqueles integrados no programa Um Teatro em Cada Bairro ou nas bibliotecas municipais.

Votando contra a proposta, o líder da bancada do PSD, Luís Newton, disse que o desígnio das Casas da Criação já está a ser feito com Um Teatro em Cada Bairro, lamentando que a ideia não tenha sido incluída aquando da discussão deste programa já em execução e acusando o Livre de “fazer um número partidário”.

O vereador da Cultura na Câmara de Lisboa, Diogo Moura (CDS-PP), referiu que o Livre optou por não apresentar a proposta durante a discussão do programa Um Teatro em Cada Bairro, no entanto, “grande parte do que é apresentado já está integrado na missão do programa Um Teatro em Cada Bairro”.

“Não faz sentido propor uma coisa que já existe e que já está em execução”, considerou o vereador da Cultura.

Da bancada do PS, Miguel Teixeira acusou os sociais-democratas de fazerem “uma verdadeira teatralização”, porque “ao PSD não interessa que esse debate seja feito”.

Contra a proposta do Livre, Miguel Ferreira da Silva, da IL, realçou o “erro do conceito” no nome do programa, referindo que no dicionário criação é propagação das espécies dos animais domésticos, aves domésticas ou galinhas.

“Seria mais ou menos a mesma coisa que a propósito da eletrificação do Porto de Lisboa se vir pedir que, porque tinha de ter corrente elétrica alternada, se criasse uma casa de alterne para a eletrificação dos cruzeiros”, afirmou o deputado da IL, manifestando-se contra a ideia de qualquer pessoa fazer cultura com instrumentos do Estado.

Lamentando o “momento de paródia” da IL, a deputada do Livre realçou que a ideia das Casas da Criação é permitir que “todas as pessoas possam ter a oportunidade de criar”.

Do partido Chega, Bruno Mascarenhas considerou que “o acesso à criação cultural em Portugal é democrático e generalizado, realizado através do acesso gratuito às instituições de ensino e, numa fase posterior, através de inúmeras associações culturais e recreativas que têm vindo a contar com o apoio das autarquias e dos governos”.

“Discordamos em sobrepor programas em cima de programas sem que estes se integrem numa política nacional programada”, referiu Bruno Mascarenhas, sublinhado que é preciso que “o Estado, no seu todo, não desperdice recursos financeiros, nomeadamente duplicando áreas de investimento”.

Por unanimidade, a assembleia aprovou uma recomendação do MPT para que a câmara estude a possibilidade de criar um Concurso Municipal de Jornais Escolares (‘online’ e/ou impressos em papel) “como forma de incentivar os mais novos a construírem, eles próprios, notícias e jornais, contribuindo assim para: favorecer as literacias básicas (ler e escrever), digitais e mediáticas dos jovens e ampliar a sua formação crítica e cidadã; alicerçar o gosto pela escola; fortalecer a coesão da comunidade escolar e reforçar a ligação entre o espaço da escola e o espaço da família”.

Os deputados viabilizaram ainda, de forma unânime, um voto apresentado pela mesa da assembleia e subscrito por todos os grupos municipais de pesar pelo falecimento da cantora Sara Tavares, que morreu no domingo, em Lisboa, aos 45 anos, vítima de doença prolongada.