No Bairro do Codivel, em Odivelas, a agência Lusa observou a equipa da seção de incêndios da Polícia Judiciária a iniciar hoje de manhã o seu trabalho de recolha de provas num dos quatro carros incendiados esta noite, um BMW, de 2006.
Escusaram-se a prestar declarações aos jornalistas, remetendo mais informações e detalhes para comunicado, posterior, das autoridades.
Nos prédios de seis andares que rodeiam a praceta não se via ninguém à janela.
As ruas encontravam-se desertas quando a Lusa passou pelo local onde se encontrava o carro incendiado. Depois, dois moradores, ao verem os automóveis da comunicação social e os agentes da Polícia Judiciária aproximaram-se.
Às câmaras não falaram, mas sem microfones à frente, e embora sem querer ser identificada “por medo de represálias”, uma moradora lembra que na noite anterior ouviu “muitas ambulâncias”, mas só hoje deu conta do que se passara.
“Tem de se ver os dois lados. Há bom e mau em todo o lado, agora é preciso é que tudo vá pelo melhor”, sublinhou a moradora de um dos prédios da praceta sem saída, localizada em frente às hortas comunitárias, onde se encontrava ainda a viatura ardida.
Cerca de dois quilómetros mais acima, no Casal da Paradela, já na Póvoa de Santo Adrião, ardeu um outro carro. Uma carrinha familiar que ficou completamente destruída, não se conseguindo sequer ver agora a matrícula.
O proprietário deste carro, João Vaz, avançou aos jornalistas estar convicto de haver ligação entre os atos de vandalismo da noite passada e os incidentes ocorridos no Bairro da Jamaica, em Setúbal, no domingo.
“Com certeza absoluta. Foi aqui, foi na praceta a 500 metros. Lá em cima no Bairro do Codivel, dois. Foi tudo organizado. Na esquadra também”, afirmou João Vaz aos jornalistas.
Até agora, João Vaz avança nunca terem existido problemas no bairro localizado na Povoa de Santo Adrião, no concelho de Odivelas, mas que agora sente insegurança, bem como os vizinhos, segundo explicou.
Descendo 500 metros, para a praceta Anselmo Braamcamp Freire, encontra-se um outro carro completamente ardido, uma carrinha, paredes meias com o parque infantil.
Mais uma vez, as ruas estavam desertas e nem comércio aberto para se poder questionar o que se passou na noite de segunda-feira.
Uma pessoa foi detida durante a noite na sequência dos incidentes registados em Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião e em Santo António dos Cavaleiros, no distrito de Lisboa, onde diversas viaturas foram incendiadas e 11 caixotes do lixo destruídos com recurso a ‘cocktails molotov’, segundo a PSP.
Em comunicado, a PSP explica que quatro viaturas foram incendiadas cerca das 21:40 de segunda-feira na Póvoa de Santo Adrião (duas) e em Odivelas (duas), e que, na sequência destes incidentes, foram incendiados e destruídos 11 caixotes do lixo e danificadas outras cinco viaturas na zona circundante ao Bairro da Cidade Nova.
A PSP acrescenta que já durante a madrugada, pelas 03:15, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, foram lançados três 'cocktails molotov' contra uma esquadra.
Esta força policial “continua as investigações destas duas ocorrências, nada indiciando, até ao momento, que estejam associados à manifestação ocorrida ontem [segunda-feira] no Terreiro do Paço”, acrescenta.
Na segunda-feira, quatro pessoas foram detidas na sequência do apedrejamento a elementos da PSP por parte de moradores do bairro social da Jamaica, no Seixal, distrito de Setúbal, que protestaram em Lisboa, frente ao Ministério da Administração Interna, para dizer "basta" à violência policial e “abaixo o racismo”.
O protesto teve como motivo a intervenção policial realizada no domingo de manhã no Bairro da Jamaica, quando a PSP foi alertada para “uma desordem entre duas mulheres”, tendo sido deslocada para o local uma equipa de intervenção rápida da PSP de Setúbal. Na ocasião, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras.
Na sequência destes incidentes, ficaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente da PSP, que foram assistidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Comentários