Para este relatório, a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos realizou entrevistas com 21 detidos, que pediram para não serem identificados, com medo de possíveis represálias, além de advogados e profissionais de saúde.
“Quase todos os entrevistados descreveram ter sido espancados com cassetetes durante a detenção, mesmo que não representassem uma ameaça”, sendo que “85% dos entrevistados foram hospitalizados como resultado da agressão e três passaram pelo menos cinco dias no hospital”, afirmou a AI.
No relatório agora publicado, a ONG citou o caso de um homem que disse ter sido alvo de tortura depois de recusar responder a uma pergunta da polícia durante o interrogatório.
“Senti que as minhas pernas foram atingidas por um objeto muito duro. Depois um agente pôs os seus joelhos no meu peito. Senti a dor nos ossos e não conseguia respirar. Tentei gritar, mas não conseguia”, disse o entrevistado.
O documento referiu também o caso de uma jovem que foi detida num protesto em Sheung Wan, em julho, e que diz ter sido espancada nas costas enquanto fugia de uma carga policial.
“O uso da força foi claramente excessivo, uma violação da lei internacional de direitos humanos”, afirmou o diretor da AI para o leste da Ásia, Nicholas Bequelin, citado no relatório.
A ação da polícia de Hong Kong para controlar os manifestantes na rua “tem sido transmitida em direto para o mundo ver”, mas “muito menos visível tem sido a abundância de abusos da polícia contra manifestantes detidos”, afirmou Bequelin.
A AI “pede uma investigação independente e imparcial que resulte em acusações, justiça e reparação, uma vez que existe pouca confiança nos mecanismos internos existentes”.
Um inquérito independente à repressão policial é uma das cinco exigências dos manifestantes, que até agora só conseguiram uma: a retirada oficial, anunciada a 04 de setembro, de uma controversa proposta de alterações à lei de extradição.
Os protestos em Hong Kong começaram em junho passado, antes do Conselho Legislativo (parlamento) iniciar o debate da controversa proposta, que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A suspensão inicial da proposta não acalmou os protestos antigovernamentais, que se intensificaram nos últimos três meses, com confrontos entre polícia e manifestantes cada vez mais violentos, na pior crise política desde a transferência de soberania da antiga colónia britânica para a China.
Os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda também a outras três reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, e, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição de um sucessor por sufrágio universal.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”.
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.
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