“A fragilidade da imprensa em Portugal é um sinal claro da instabilidade a que está sujeita a democracia no país. Os desafios que a imprensa vive desde há anos, em Portugal, com predominância na sustentabilidade financeira, são tão grandes quanto a sua importância para a democracia”, apontou, em comunicado, a Amnistia Internacional.

Este movimento internacional sublinhou que uma imprensa “independente e rigorosa” é um dos pilares da democracia sólida e é essencial para “escrutinar e chamar à responsabilidade os poderes políticos”.

A independência do trabalho jornalístico é garantida pela Constituição e o Estatuto do Jornalista dá-lhe “liberdade de expressão e de criação”, de acesso às fontes de informação, independência e participação na orientação editorial do órgão em que trabalha.

Por outro lado, “a exigência do rigor” e os métodos de trabalho asseguram que a informação “é credível, verdadeira e precisa”.

A Amnistia notou também que a intervenção da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) garante um “trabalho rigoroso e independente”.

Assim, este movimento disse olhar com “profunda preocupação” para os acontecimentos do último mês, referindo que os diretos, deveres e garantias da profissão podem não estar a ser cumpridos integralmente.

“Suscita elevada preocupação a falta de clareza sobre quem está por detrás do fundo que adquiriu e controla o Global Media Group [GMG]”, vincou.

A organização mostrou-se também preocupada com a falta de pagamento de salários e a “pouca transparência nas contas” do grupo, “não sendo possível perceber a verdadeira dimensão do problema financeiro”.

A Amnistia Internacional lamentou a “fragilidade da imprensa” portuguesa, o que disse ter riscos acrescidos de instrumentalização da mesma por “interesses que podem ser contrários” à missão do setor.

Em causa, segundo destacou, estão relatos de interferência de proprietários ou de administrações em nome dos proprietários no trabalho das redações.

“O ataque à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa pode ser também efetuado pela instabilidade e fragilidade económica”, concluiu.

Trabalhadores do Global Media Group (GMG), hoje em greve, concentraram-se junto à sede do grupo, em Lisboa, para exigir o pagamento dos salários em falta e em defesa dos postos de trabalho, do jornalismo e da democracia.

Em frente às Torres de Lisboa, largas dezenas de trabalhadores do Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), da rádio TSF, do Dinheiro Vivo (DV), do desportivo O Jogo, entre outros títulos, estiveram concentrados esta tarde, onde marcaram presença também trabalhadores de outros órgãos de comunicação social.

Os trabalhadores da Global Media estão hoje em greve para exigir o pagamento do salário de dezembro e do subsídio de Natal e após a Comissão Executiva do GMG, liderada por José Paulo Fafe, ter anunciado que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.

A greve de hoje foi convocada pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ), pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte) e pelo Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT), abrangendo todos os trabalhadores, independentemente da função.