“O que estamos aqui a referir é que, com base nestas análises efetuadas, e na monitorização e acompanhamento efetuados, se confirma que o acumular da carga orgânica nestas localizações do rio, com origem nas indústrias de pasta de papel localizadas a montante, tem um impacto negativo e significativo na qualidade da água no rio Tejo”, afirmou Nuno Lacasta.

O dirigente da APA, que falava na sede do organismo, no Zambujal, concelho da Amadora, explicou que a elevada concentração de carga orgânica resultou de uma conjugação de fatores, mas que na próxima semana será avaliada a medida de redução de descargas, determinada pelo Ministério do Ambiente, da fábrica da Celtejo.

Em conferência de imprensa, Nuno Lacasta salientou que o rio Tejo “não tem cheias desde maio de 2016” e que 2017 se caracterizou por períodos de temperaturas muito elevadas, com registos de precipitação “abaixo da média”, contribuindo para uma redução de caudais.

Perante este cenário, a APA reforçou a monitorização da qualidade da água do Tejo, com particular “enfoque nas albufeiras de Fratel e Belver”, com amostragens de dois em dois dias, desde novembro, e mais recentemente todos os dias.

A monitorização, segundo explicou o responsável, demonstraram a existência de valores elevados no parâmetro de carência química de oxigénio, com elevada carga de matéria orgânica que, em algumas situações, se traduziram em anoxia (ausência de oxigénio).

Perante o foco poluente a 24 de janeiro, junto ao açude de Abrantes, os resultados das análises nos laboratórios da APA e de tecnologia florestal do Instituto Superior de Agronomia revelaram que a água “evidencia valores de concentração elevados de carência química de oxigénio e fósforo total”, revelou Nuno Lacasta.

“No que diz respeito aos valores obtidos para carência bioquímica de oxigénio, azoto amoniacal e parâmetros microbiológico, normalmente associados a descargas residuais urbanas e do setor pecuário, estes valores não revelam concentrações que indiciem impactos significativos com origem nestas atividades”, frisou.

Segundo Nuno Lacasta, as análises efetuadas às espumas e às águas revelaram “valores muito elevados” relativamente a fibras celulósicas, “correspondendo a um aumento de cerca de 30 vezes relativamente aos apurados noutras amostragens”.

“Também os valores de celulose, que avaliam toda a matéria vegetal em presença, se apresentam anormalmente elevados, cerca de 5.000 vezes superiores aos verificados em amostragens anteriores”, acrescentou.

Apesar de se escusar a nomear a empresa que estará na origem do foco de poluição, o presidente da APA reforçou “que as atividades por parte das indústrias de pasta de papel localizadas a montante, nomeadamente do açude de Abrantes, têm um impacto negativo e significativo na qualidade da água no rio Tejo”.

O dirigente do organismo do Ministério do Ambiente notou que, na semana passada, foi determinada à Celtejo uma redução de 50% de efluentes, durante dez dias, como “medida de precaução”, uma vez que a empresa “corresponde a cerca 90% da descarga naquela localização”.

Nuno Lacasta admitiu que parte dos efluentes industriais já passam pela nova Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), mas que o equipamento ainda se encontra “em afinação”.

“Não podemos descarregar efluentes num meio que não tem capacidade para os receber”, vincou o dirigente da APA, apontando a necessidade de avaliar “um conjunto de licenças” de empresas perante a alteração das condições do rio Tejo.

Quanto à redução imposta à Celtejo, Nuno Lacasta adiantou que, a 05 de fevereiro, “será feita uma avaliação do meio e de um conjunto de informação” a prestar pela empresa, “com vista a eventualmente determinar o prolongamento ou a cessação” da medida de precaução em vigor.

O presidente da APA referiu ainda que a situação está também a ser investigada pela Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e Ordenamento do Território e pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

A PGR revelou no sábado que o Ministério Público instaurou um inquérito a empresas de Vila Velha de Rodão, na sequência de uma participação de crime de poluição apresentada pelo Ministério do Ambiente.