Esta solução governativa já foi tentada anteriormente sem sucesso pelo secretário-geral do PSOE (socialistas) e primeiro-ministro em exercício que agora, pressionado pelos eleitores e com um apoio parlamentar ao seu partido mais reduzido, deverá voltar a explorar nos próximos dias.
“A situação é igual ou ainda pior do que anteriormente e Sánchez, com menos apoios parlamentares, continua a precisar do Unidas Podemos [extrema-esquerda]”, disse o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera em declarações à Lusa.
O PSOE ganhou as eleições legislativas de domingo, mas sem maioria absoluta e mais fraco que anteriormente, tendo a grande descida do Cidadãos (direita liberal) beneficiado o PP (direita) e, sobretudo, o Vox (extrema-direita) que agora tem mais do dobro dos deputados.
Com estes resultados, mesmo que o bloco dos partidos de esquerda (PSOE, Unidas Podemos e Mais País), que totaliza 158 deputados num total de 350, cheguem a um pré-acordo, deverão precisar do apoio ou da abstenção de outros partidos de âmbito regional, entre os quais se encontram os nacionalistas bascos e os independentistas catalães.
O catedrático insiste que “por muito que isso lhes custe”, devido à falta de “química” entre Pedro Sánchez e o líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias, os dois partidos “têm de se entender”, antes de procurarem outros apoios.
Na legislatura anterior, o mesmo processo foi interrompido, porque Pedro Sánchez não aceitou a exigência do UP (Unidas Podemos) de liderar um ministério de importância económica como o do Trabalho ou o da Transição Ecológica (com competências em energia e meio ambiente).
Carlos Barrera não acredita num segundo cenário, um acordo entre o PSOE e o PP, que, no entanto, não está totalmente descartado por outros analistas que concordam que enfrenta numerosas dificuldades.
Segundo este cenário, a pressão dos eleitores cansados de votar e a exigir que os políticos resolvam a situação, levaria o PP a poder abster-se na sessão de investidura de Sánchez, uma situação idêntica à que o PSOE fez em 2016 com Mariano Rajoy.
“Este acordo é uma hipótese, mas muito perigosa, tanto para o PSOE como para o PP”, explica José Luís Ayllón, um ex-deputado do PP que agora colabora como analista no escritório de advogados Llorente y Cuenca.
Um pacto entre as duas maiores forças políticas espanholas corre o risco de enfurecer os apoiantes dos dois partidos, os do PSOE que defendem um acordo à esquerda, e os do PP que poderiam fugir ainda mais para o Vox.
O último dos cenários políticos, umas novas eleições, “é pouco provável, mas não impossível”: “Será muito difícil que os partidos se atrevam a voltar a consultar os espanhóis, que estão cansados de ir votar”, disse José Luís Ayllón.
Na consulta eleitoral de 10 de novembro, o PSOE teve 28,0% dos votos (120 deputados), seguido pelo PP com 20,8% (88), o Vox com 15,1% (52), o Unidas Podemos com 12,8% (35) e o Cidadãos com 6,8% (10).
Entre os partidos de âmbito regional o mais importante é o independentista catalão ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) que obteve 2,2% dos votos a nível nacional e elegeu 13 deputados ao parlamento.
Por outro lado, os analistas consultados pela Lusa pensam que será “muito difícil” e “altamente improvável” que o eventual novo Governo seja investido antes do fim do ano.
Nos próximos dias, Pedro Sánchez vai começar a contactar os restantes partidos e a 03 de dezembro, as Cortes Gerais (parlamento formado pelo Congresso dos Deputados e pelo Senado) serão constituídas.
A partir daí, serão formados os grupos parlamentares e, em seguida, o Rei Felipe VI iniciará consultas para ver se algum candidato tem o apoio suficiente para ser encarregado de tentar formar um Governo.
Mesmo que o rei termine por apresentar Pedro Sánchez como candidato, é muito possível que o parlamento lhe dê como prazo limite para negociar, até o final de janeiro, segundo José Luís Ayllón.
Pedro Sánchez apelou, no discurso de vitória no domingo à noite, a “todos os partidos” para que atuem “com responsabilidade e generosidade” para desbloquearem o impasse político em Espanha, assegurando que pretende formar um Governo “progressista”.
“Ganhámos as eleições e a partir de amanhã [segunda-feira] vamos trabalhar para esse Governo progressista do PSOE”, concluiu Sánchez num pequeno discurso perante cerca de 200 militantes e apoiantes do PSOE reunidos em frente à sede nacional do partido, em Madrid.
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