“Eu acho que é pouco crível que um ministro, seja ele qual for, não articule aspetos desta gravidade com o primeiro-ministro, ainda assim eu nunca poderei dizer mesmo se ele sabia ou não”, afirmou Rui Rio, em conferência de imprensa convocada pelo PSD a meio da tarde para um hotel nas Caldas da Rainha (Leiria), onde em seguida participará numa iniciativa de campanha eleitoral.

Ainda assim, Rio considera igualmente grave “a hipótese” de António Costa não saber, já que tal indicaria que havia ministros que não informam o primeiro-ministro de tudo aquilo que “de relevante e grave” se passa no respetivo Ministério.

“O que se terá passado ao longo desses quatro anos dentro do Governo que o primeiro-ministro não soube e o que poderá de acontecer de importante no futuro, num Governo presidido pelo dr. António Costa, que o dr. António Costa pura e simplesmente não saiba?”, interrogou.

Questionado se as recentes notícias que envolveram o nome do Presidente da República no caso Tancos podem ser uma “encenação” do Governo, Rio respondeu afirmativamente.

“Tudo leva a crer que sim. Por parte do Governo, para que saíssem notícias a tentar pôr uma cortina de fumo. Dá-me ideia que é bem provável que possa ter acontecido”, respondeu.

O líder do PSD alterou hoje a agenda de campanha eleitoral para analisar a acusação do caso Tancos, e considerou que se “pode não ser tudo verdade, seguramente também não é tudo mentira”.

“É um assunto grave em termos de funcionamento do Estado de direito democrático: há dentro dos serviços do Estado sob tutela do Governo notórias cumplicidades para dificultar a ação da justiça, seja da Procuradoria-Geral da República, seja da Polícia Judiciária”, acusou.

Rio não quis alongar-se sobre o ex-ministro Azeredo Lopes, uma vez que “já não é ministro há muito tempo”, dizendo que apenas quer tirar conclusões “de ordem política”.

“Aí há uma pergunta que todos nós nos temos colocado e agora ainda mais: perante um assunto desta gravidade, o ministro da Defesa não avisa o primeiro-ministro?”, questionou.

O líder do PSD salientou já ser público que Azeredo Lopes terá “articulado” o assunto com Tiago Barbosa Ribeiro, presidente da comissão política concelhia do Porto do PS e deputado.

“Se articula, se informou como é o mais provável, temos aqui um problema do primeiro-ministro ele próprio ser conivente com aquilo que se passou, mas se quisermos ir para a hipótese do ministro não ter avisado o primeiro-ministro, como o este tem vindo a defender, também temos aqui um problema grave”, afirmou.

Para Rio, as duas possibilidades – se António Costa sabe ou não sabe do encobrimento – “são muito más”.

“Mesmo que não saiba, um Governo não pode funcionar assim, que autoridade e coordenação tem um primeiro-ministro sobre os seus ministros?”, questionou.

Hoje à tarde, o vice-presidente do PSD David Justino – que também marcou presença na conferência de imprensa - escreveu na rede social Twitter que “a encenação política do ‘Achamento’ [das armas de Tancos] e a encenação recente envolvendo o PR, revela um padrão de comportamento político indisfarçável”, defendendo que tal deve ser discutido na campanha “até às últimas consequências”.

“Perante esta situação e olhando àquilo que aconteceu com os professores e os motoristas, não tenho dúvidas que algumas mentes do PS devem estar a puxar pela imaginação para ver o que se pode montar aqui para desviar atenção do caso de Tancos. Se terão imaginação para isso não sei, têm muita”, corroborou Rui Rio.

Sobre as notícias segundo as quais o chefe de Estado também estaria a par do encobrimento – e que Marcelo Rebelo de Sousa já negou categoricamente -, Rio considerou que “é caso para dizer que o tiro saiu pela culatra”.

O líder social-democrata criticou ainda o relacionamento entre o Governo e o grupo parlamentar do PS, depois de se saber que o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro recebeu SMS de Azeredo Lopes em que o ministro admitia ter conhecimento do encobrimento do furto das armas.

“É notório que o deputado do PS, neste caso, procurou ocultar a verdade e ajudar a ocultar a verdade”, afirmou, considerando que não tem condições para voltar a ser candidato ao cargo.

O Ministério Público (MP) acusou 23 pessoas, entre elas o ex-ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, no caso do furto e da recuperação das armas de Tancos.

Azeredo Lopes está acusado de prevaricação, abuso de poder, denegação de justiça e favorecimento de funcionário, crimes que o MP classificou como “muito graves”.

(Notícia atualizada às 19h52)