“No caso de os nossos esforços (para dissuadir Israel) não terem êxito, preparamo-nos para reagir. Uma decisão de tal gravidade não pode ficar sem resposta”, insistiu Jean-Yves Le Drian durante um debate na quarta-feira à noite no Senado sobre o assunto.
“Se os israelitas decidirem ir em frente com o processo de anexação, seremos forçados a impor medidas que afetarão as relações da União Europeia e dos seus Estados membros com Israel”, advertiu.
O governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deve anunciar a partir de 1 de julho a sua estratégia para aplicar o plano norte-americano para o Médio Oriente.
Este prevê a anexação por Israel dos colonatos e da vasta planície agrícola do vale do Jordão na Cisjordânia (ocupada por Israel desde 1967) e a criação de um Estado palestiniano num território reduzido.
A UE poderá reanalisar a “participação de Israel em diferentes programas de cooperação” e “reforçar o controlo da origem dos produtos importados”, indicou o chefe da diplomacia francesa.
Le Drian admitiu que a reticência de certos Estados membros (como a Polónia e a Hungria) em sancionar Israel complica qualquer tomada de decisão, mas considerou existir ainda margem de manobra.
“Noto que mesmo se alguns Estados europeus se isolarem, a regra da unanimidade não se aplica a todos os programas europeus nos quais Israel participa”, disse.
“Uma série de medidas pode ser tomada a nível nacional” e de modo “coordenado”, nomeadamente entre a França, Alemanha, Itália e Espanha, adiantou.
O reconhecimento do Estado palestiniano, regularmente pedida por uma parte da classe política francesa, continua a ser uma opção, observou o ministro.
“Uma eventual decisão de anexação não modificará, pelo contrário, a nossa antiga determinação de reconhecer na altura certa o Estado palestiniano no quadro e formato apropriados, quando a decisão for útil para a paz”, sublinhou.
Alguns Estados europeus refletem sobre esta opção, outros pensam, ao contrário, que ela será contraprodutiva nesta fase e só a consideram como um último recurso.
O relançamento das negociações de paz israelo-palestinianas deve continuar a ser o objetivo, ainda que atualmente não o seja, continuou.
“Se não podemos relançar imediatamente as negociações de paz o nosso objetivo é preservar as condições para futuras negociações e a possibilidade de uma solução negociada”, disse Le Drian.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse na quarta-feira que Portugal apoia os “esforços da União Europeia no sentido de alcançar uma paz sustentável e duradoura no Médio Oriente” e apela a Israel para que “evite qualquer decisão unilateral contrária ao direito internacional”.
No mesmo dia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e a Liga Árabe pediram a Israel que abandone os planos para anexar partes da Cisjordânia, que prejudicam os esforços internacionais para a paz no Médio Oriente e a solução de dois estados, enquanto o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, afirmou que a decisão sobre uma eventual anexação de partes da Cisjordânia ocupada “pertence aos israelitas”.
Mais de 450.000 israelitas vivem na Cisjordânia em colonatos, considerados ilegais pela lei internacional, ao lado de 2,7 milhões de palestinianos.
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