António Costa preconizou este posicionamento estratégico para Portugal na conferência sobre o futuro da Europa, intitulado "Encontro com cidadãos", na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com a presença do chefe de Estado francês, Emmanuel Macron.

Já a meio da conferência, Macron e Costa foram interrogados por uma jovem portuguesa sobre o atual estado do eixo franco-alemão.

Um alinhamento diplomático entre estes "dois países charneira na Europa" que o primeiro-ministro português considerou essencial para o bom funcionamento da União entre os 27 Estados-membros.

António Costa invocou, para o efeito, os factos históricos de as principais guerras na Europa contemporânea terem sido travadas precisamente entre a França e a Alemanha.

"Se queremos paz e prosperidade na Europa, precisamos de uma boa relação entre a França e a Alemanha", sustentou o primeiro-ministro.

Depois de afastar receios sobre as consequências resultantes do eixo franco-alemão, António Costa falou então sobre qual o posicionamento estratégico que deseja para Portugal no quadro europeu.

"Na União Europeia não podemos ignorar que há dinâmicas diversas, como em Schengen ou na zona euro. Não vejo mal que possa haver uma Europa com geometrias variáveis - isso pode ser até mesmo um fator de união, porque há países que têm consciência de que podem avançar mais e outros que não. Bloquearmo-nos todos na confrontação é mau para todos", advogou o primeiro-ministro.

No caso de Portugal, António Costa identificou como condição fundamental que todas as formas de cooperação reforçada no âmbito da União Europeia sejam inclusivas e não exclusivas de Estados-membros.

"Portugal tem ganho sempre em estar naquilo que se chama pelotão da frente ou núcleo duro. Penso que Portugal tem tudo a ganhar em estar sempre no centro do processo de integração europeia, porque é isso que reforça a nossa própria especificidade. Foi aqui dito de forma diplomática que, parecendo nós sermos mediterrânicos, verdadeiramente somos atlânticos", disse.

Para o primeiro-ministro, Portugal tem vantagens em estar "no núcleo duro europeu" e "França e Alemanha "são dois excelentes parceiros".

"É com eles que nós também temos de construir este futuro da Europa", acrescentou.

Durante o debate, António Costa recorreu também à História para defender diferenças estruturais de ordem social entre os 27 Estados-membros da União Europeia.

António Costa colocou então em contraponto a História de Portugal espalhada por vários continentes e, sem especificar, de alguns países da Europa central historicamente rodeados por impérios e que necessitam sempre de salientar os seus fatores de identidade.

Apesar desta nota de compreensão de ordem histórica, o primeiro-ministro criticou países que exigiram abertura de fronteiras no final da década de 80 para se "libertarem da cortina de ferro", mas que agora querem essas suas fronteiras fechadas.

"É ilusório pensar que a questão das migrações se resolve com muros", disse, já depois de ter recusado a presença na União Europeia de países que desrespeitem normas básicas próprias de um Estado de Direito.

"Os tratados não fixam apenas normas económico-financeiras, mas também obrigações no cumprimento de valores", frisou, considerando então que Portugal "tem uma tradição de abertura" ao exterior.

Em relação às políticas de integração de imigrantes na Europa, António Costa defendeu como fatores fundamentais a adoção de medidas favoráveis ao reagrupamento familiar e à valorização da escola.

O primeiro-ministro avançou também com a sugestão de a União Europeia adotar um programa global de "regeneração" urbana nas periferias dos centros urbanos.

"Muitos dos bairros periféricos na Europa são mais fatores de exclusão do que de inclusão", observou.


Notícia atualizada às 15:13