Após uma visita ao Hospital Curry Cabral, em Lisboa, durante a qual esteve acompanhado pela ministra da Saúde, Marta Temido, António Costa agradeceu aos profissionais "incansáveis", sublinhando que esta unidade tem sido "de primeira linha para combater esta pandemia".

O primeiro-ministro anunciou que este hospital está preparado, em caso de necessidade, para se dedicar exclusivamente a doente com Covid-19. "Este hospital está preparado para vir a tornar-se um hospital exclusivamente Covid", referiu, antes de apontar que o Curry Cabral terá capacidade para passar das atuais 36 camas para um total de 300 camas, ocupando para o efeito outros serviços hospitalares.

"Quis vir cá para expressar o meu profundo reconhecimento e o de todos os portugueses aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, aos que trabalham aqui no Curry Cabral, e inteirar-me dos desafios que sentem no dia a dia e o apoio que precisam de ter do Governo e outras entidades", afirmou.

Depois de uma reunião com o Conselho de Administração do hospital, António Costa visitou o Serviço de Doenças Infecciosas - sem contactar com doentes infetados -, acompanhado do diretor do serviço, Fernando Maltez, bem como o centro de testes desta unidade hospitalar.

Ao longo da visita, foram ainda equacionadas "outras soluções de recurso que poderão ser necessárias se a pandemia tiver uma progressão muito dramática", disse António Costa, embora sem especificar essas soluções em ponderação.

No final, em declarações aos jornalistas, Costa foi questionado em relação ao número de testes que está a ser realizado em Portugal. "Mantenhamos todos o estado de emergência, a contenção, o isolamento social e a enorme disciplina que temos tido e que temos de ter cada vez mais para evitar a expansão da pandemia. Essa é a chave disto tudo. Antes do número de ventiladores nos cuidados intensivos, antes do número de camas para internamento, antes dos testes, acima de tudo temos de ter uma enorme disciplina", respondeu o primeiro-ministro.

António Costa falou então na necessidade de haver disciplina no hábito de lavar as mãos com frequência, de não mexer na cara ou não cumprimentar ou abraçar outras pessoas, e de cada um dos cidadãos ficar o máximo possível em isolamento em casa, evitando ao máximo as saídas.

"Esse é o grande desafio que nós temos. Todos os outros são sequenciais", reforçou António Costa.

De acordo com o primeiro-ministro, se as regras de higiene e de distanciamento social forem cumpridas, "essa é a melhor ajuda que se poderá dar para que não faltem testes, equipamentos, camas e os profissionais possam desempenhar o seu trabalho".

Discrepâncias entre números de infetados? A DGS limita-se a agregar informação

O primeiro-ministro foi questionado sobre alegadas divergências entre os números oficiais e os de algumas autarquias e recordou que, na véspera, já foi explicado aos líderes de todos os partidos e ao Presidente da República como são feitos os registos sobre os doentes com Covid-19.

"Cada médico faz a inscrição numa plataforma comum dos casos que identifica, essa é a origem. Os números da DGS são simplesmente a agregação dessa informação descentralizada, a DGS não produz números, agrega os números que lhe são transmitidos por todos e publica-os", respondeu.

António Costa acrescentou que, se todos os profissionais fizerem esse registo, os números da DGS são credíveis.

"Os números da DGS são os números que são fornecidos pelos profissionais de saúde e são os números credíveis com que podemos trabalhar", reforçou.

Perante várias questões sobre denúncias de faltas de material em unidades de saúde, Costa repetiu a lista detalhada que tem apontado nos últimos dias de encomendas que o Governo já fez a nível de batas, fatos de proteção, luvas, máscaras e toucas.

"Se estão encomendados, é porque ainda não chegaram. Se não chegaram às nossas mãos, quanto mais aos hospitais?", afirmou, apontando que "o material existe, vai sendo gasto e tem de ser reposto".

O primeiro-ministro admitiu que, "como em tudo, é preciso racionalizar" o uso deste material de proteção individual, e defendeu que "o tempo não é de polémicas, mas de identificar problemas e encontrar soluções".

"Eu não vou alimentar polémicas, prefiro vir ao terreno e ouvir das pessoas que estão a trabalhar o que falta, o que não falta e os recursos que existem", disse.

"Não temos falta de equipamentos de proteção", diz diretor do serviço de infecciologia do Curry Cabral

Fernando Maltez, diretor do serviço de infecciologia do Hospital Curry Cabral, falou logo a seguir ao primeiro-ministro, reiterando que, "até à data", não houve "falta de qualquer equipamento de proteção individual".

No entanto, o diretor do Serviços de Doenças Infecciosas alertou que "não se deve confundir o que é falta com aquilo que deve ser a racionalização dos equipamentos".

"Os equipamentos devem ser utilizados de acordo com as necessidades e não mais do que isso: para uma determinada patologia está indicado um determinado equipamento de proteção individual e não é por se usar equipamento a dobrar que ficamos mais protegidos, antes pelo contrário, corremos mais riscos", disse.

Fernando Maltez repetiu o conselho do primeiro-ministro de que "o mais importante é tentar evitar que surja um número de doentes que exija um número muito elevado de equipamento".

"O nosso principal objetivo neste momento não é tentar comprar mais equipamento, o objetivo principal é de facto obedecer às medidas de contenção de forma religiosa", apelou o médico.

O diretor de serviço do Curry Cabral considerou que em Portugal as medidas de contingência foram adotadas de "forma mais precoce e atempada" do que em países como Itália.

"Se cumprirmos todas as nossas obrigações, pode fazer toda a diferença comparativamente às curvas epidémicas de outros países", defendeu.

De acordo com o balanço que fez, neste momento estão internados com covid-19 no Hospital Curry Cabral 22 pessoas na enfermaria geral e 15 nos cuidados intensivos, sendo ainda acompanhados 145 em isolamento domiciliário.

"Fazemos à volta de 120 testes por dia, até agora também não tivemos falta de testes", esclareceu ainda.

O novo coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19 foi detetado em dezembro de 2019 na China e já infetou mais de 428.000 pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 19.000 morreram.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde indicou hoje que a pandemia de covid-19 já provocou 43 mortes e 2.995 infetados.

Desde as 00:00 do dia 19, todo o país se encontra em estado de emergência, que vigorará até às 23:59 do dia 02 de abril.

*Artigo atualizado às 13h54