António Guterres, que foi hoje distinguido pela CPLP com o prémio bienal José Aparecido de Oliveira, considerou que este reconhecimento mostra “o empenhamento dos membros da CPLP em tudo fazer” para enfrentar “os enormes riscos” que se apresentam ao mundo, das alterações climáticas ao terrorismo, passando pelos impactos da evolução tecnológica.

A resposta da comunidade internacional a esses riscos deve ser feita, não através “de expressões de nacionalismo e de isolacionismo que não têm qualquer sentido”, mas reafirmando “uma ordem multilateral” que Guterres considerou ser hoje “mais indispensável do que nunca para a resolução dos problemas mundiais”.

Na cerimónia da entrega do prémio, que teve lugar na sede da CPLP em Lisboa, o responsável da ONU lamentou ainda que a “erosão” das relações internacionais se traduza num aumento da desconfiança entre os Estados e entre os povos, “o que torna cada vez mais difícil a defesa da paz e a segurança” e a promoção de uma “globalização que seja justa”.

Para Guterres, a CPLP tem “condições excecionais” para “fazer pontes” e ser mensageira de uma ordem internacional baseada no Direito, pois inclui países de todos os continentes e assenta num quadro de relações de cooperação e amizade entre todos os seus Estados, sendo descrita como “um símbolo de harmonia”.

O ex-primeiro-ministro português adiantou que o prémio pecuniário, no valor de 30 mil euros, vai ser entregue ao Conselho Português para os Refugiados pelo seu papel “na generosa política” que Portugal adotou abrindo as suas portas à proteção de refugiados.

“Não somos dos países que tem maior número de refugiados, mas as fronteiras sempre estiveram abertas e os refugiados sempre encontraram em Portugal um povo amigo e acolhedor”, vincou, elogiando esta maneira de estar no mundo “que tem sido posta em causa com manifestações de xenofobia e racismo e violações do direito internacional dos refugiados” e incapacidade para compreender os valores da solidariedade internacional.

A secretária-executiva da CPLP, Maria do Carmo Silveira, salientou que Guterres é “um exemplo” a ser seguido em tempos de ameaças aos valores e conquistas alcançadas ao longo da segunda metade do século XX pelo trabalho realizado à frente das Nações Unidas e na defesa destes valores.

Disse ainda que o nome de Guterres mereceu adesão e unanimidade de todos os Estados-membros e enalteceu a “sua brilhante carreira” que terminou com o empossamento como secretário-geral das Nações Unidas em janeiro de 2017, apontando outros marcos profissionais como o contributo para a independência de Timor-Leste e a formação da CPLP.

O prémio homenageia a ação do embaixador José Aparecido de Oliveira, que "marcou, de forma indelével, o surgimento da CPLP, convertendo em realidade um sonho acalentado pelos povos dos países de língua portuguesa, espalhados por quatro continentes, e fazendo do seu autor um arauto do futuro”, referiu a CPLP em comunicado.

O prémio, criado em 2011, seria atribuído pela primeira vez no ano seguinte ao antigo Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2014, receberam a distinção o antigo Presidente e primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão e a Igreja Católica Timorense, enquanto em 2016 os distinguidos foram o antigo chefe de Estado português Jorge Sampaio, o ex-secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África Carlos Lopes e o embaixador Lauro Barbosa da Silva Moreira, diplomata de carreira do Brasil e primeiro representante permanente junto da CPLP.