“Esta questão [revisão do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em Portugal] não está em cima da mesa neste momento. Todos os acordos ortográficos ao longo da história foram sempre alvo de críticas”, afirmou o ministro Pedro Adão e Silva.

Em declarações à Lusa, em Luanda, à margem da cerimónia solene de comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa, o governante português referiu ainda que a esta “é uma matéria que não depende do ministro da Cultura”.

As celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa decorreram na sede do Ministério das Relações Exteriores angolano, em Luanda, “Capital da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) 2022”.

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, assinado pelos países da CPLP visando uma ortografia unificada do português, não foi ratificado por Angola até agora.

“A avaliação que faço do Acordo Ortográfico é positiva, mas nós devemos saber articular aquilo que é a norma, a existência de normas gramaticais, ortográficas, é um fator de inclusão, é um fator que permite combater as desigualdades, trazer aqueles que estão fora para dentro”, referiu Pedro Adão e Silva.

“Mas temos sempre uma língua viva, dizemos que é a língua de Luís de Camões. O português que falamos hoje tem muito pouco a ver com o que falado por Luís de Camões, a ortografia d' 'Os Lusíadas' tem aspetos que não são os que nós hoje consideramos a norma”, sustentou.

Para o governante português, “é necessário saber combinar a esse respeito a importância da norma com abertura para perceber que as línguas são, por definição, dinâmicas, estão sempre a mudar e a mudança vem precisamente da forma como os mais jovens se apropriam dela”.

Sobre o posicionamento de Angola, que não ratificou o acordo, o ministro da Cultura português disse respeitar a opção do país africano, observando que não é isso que impede a partilha de uma comunidade construída em torno da língua.

E “é também verdade que o português em Angola tem uma riqueza, uma diversidade e uma variedade e até uma espécie de modernidade que é muito positiva para o português”.

Pedro Adão e Silva, que terminou hoje a sua visita oficial a Angola, participou na quarta-feira da 12ª reunião dos ministros da Cultura da CPLP e visitou vários projetos e iniciativas culturais, no âmbito do “Luanda Capital da Cultura da CPLP 2022”.

“Faço um balanço muito positivo de uma visita muito intensa, onde contactei com várias dimensões da realidade cultural angolana e também da língua, isso é muito interessante e estimulante”, comentou.

O papel “unificador” da língua portuguesa a nível da comunidade e a sua diversidade, “que é naturalmente geográfica, mas que é também geracional”, foi também assinalado pelo governante.

O ministro português visitou na manhã desta quinta-feira projetos de bibliotecas itinerantes e clubes de leitura na zona do Benfica, sudoeste de Luanda, e disse ter ficado “impressionado” com a recitação da poesia rimada e o “spoken word” de jovens.

“Com um registo que é muito próximo do que se calhar eu encontro em Lisboa em jovens de 20 anos e que é muito distinto da forma que eu uso o português. Acho que nessa transversalidade, cruzamentos e partilhas e nesse pluricentrismo que reside a força do português”, apontou.

“Mais do que uma simbologia, [o português] é o cimento que nos une, a CPLP tem muitas formações das suas reuniões de ministros em mais diversas matérias, mas não for esta partilha, em primeiro lugar da língua, não existiria, ou seja, é a cultura que primeiro nos une”, acrescentou.

Só existe CPLP, referiu, “porque há esse lado partilhado".

"Nós não nos devemos esquecer desse aspeto e perceber que a força e a continuidade desta comunhão depende da forma como soubermos respeitar aquilo que é semelhante no uso do português, mas termos toda a abertura para a diversidade”, sublinhou.

Para Portugal, Pedro Adão e Silva “leva na bagagem” a “consciência que Angola é um país com uma enorme energia criativa, com uma pulsão artística muito interessante, muitas coisas a acontecer”.

“Certamente com menos enquadramento do ponto de vista das políticas do que acontece em Portugal, mas com uma força radical de que gostei muito, vi projetos interessantes, vi muito talento e que são jovens que precisam de oportunidades”, rematou.