“Esta questão de algum sobressalto no abastecimento em termos de vacinas não deixará de ser ultrapassado e será cada vez mais otimizado”, afirmou João Almeida Lopes na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social.
Perante os deputados, o responsável da Apifarma salientou que, depois do “facto notável” de se ter conseguido desenvolver vacinas contra o SARS-CoV-2 em cerca de um ano, existem procedimentos que têm de ser cumpridos antes de se avançar para a produção industrial desses fármacos.
“De repente estamos a falar, uma vez aprovadas as vacinas, de ser capazes de produzir cerca de 10 mil milhões de vacinas” para administrar à população mundial, adiantou João Almeida Lopes, ao considerar que se trata de produtos de biotecnologia cujos lotes industriais “têm de cumprir todos os requisitos regulamentares e de segurança”.
“A verdade é que estes lotes, em termos biotecnológicos, quando se faz a escala para quantidades maiores, são suscetíveis de problemas técnicos complexos”, referiu o presidente da APIFARMA.
Segundo disse, a produção industrial destes fármacos tem ainda obrigado à deslocalização de fábricas para diversos países, com equipamentos e grupos profissionais diferentes, o que contribui para que, em termos de processos biotecnológicos, “nem sempre corra bem à primeira”.
“O que é garantido é que todos os lotes que são colocados à disposição da população estão completamente de acordo com as regras, estão 100% de acordo com as regras estabelecidas pelos reguladores”, assegurou.
Na audição parlamentar, o presidente da Apifarma destacou ainda o “esforço gigantesco” de diversas empresas farmacêuticas no desenvolvimento das vacinas, o que só “foi possível por haver um conhecimento científico acumulado ao longo de anos de investigação”.
“A verdade é que aquilo que poucos acreditavam que seria possível num espaço de tempo relativamente curto veio a acontecer. Em oito ou nove meses, foi possível a algumas empresas ter vacinas que começaram a ser testadas”, sublinhou.
Em Portugal, a primeira fase de vacinação, que devia terminar antes de 31 de março, vai ser prolongada para abril devido ao “problema da disponibilidade de vacinas”, anunciou hoje o novo coordenador para o plano de vacinação contra a covid-19.
“Não vamos conseguir com as vacinas que temos terminar a primeira fase antes de 31 de março, vamos prolongar para abril este período”, disse Henrique Gouveia e Melo na reunião do Infarmed, que juntou peritos, Governo e o Presidente da República e onde está a ser analisada a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal.
Esta situação, explicou Gouveia e Melo, que sucedeu a Francisco Ramos no cargo, “não é um problema de administração, nem da velocidade da administração, é um problema logístico e um problema da disponibilidade de vacinas à chegada a Portugal e, portanto, de acesso a vacinas”.
Apifarma garante que há capacidade para testagem sistemática no país
“Se no princípio [da pandemia] – em março e abril do ano passado – talvez houvesse alguma dificuldade de testes, hoje em dia, de há dois meses a esta parte, nós não temos problemas nenhuns de testes, sobretudo de testes rápidos”, afirmou João Almeida Lopes.
Ouvido por videoconferência na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social, o responsável da Apifarma defendeu que “faria sentido” que os testes rápidos de despiste do novo coronavírus fossem feitos com regularidade nas empresas e nas escolas.
“Eu penso que estamos todos de acordo que deveria haver uma testagem maciça”, referiu João Almeida Lopes, para quem esse procedimento “permitiria, tanto quanto possível, manter a sociedade a trabalhar e evitar o enorme prejuízo” que está a ser provocado pela pandemia no país.
Na audição parlamentar, o presidente da Apifarma destacou ainda o papel que as empresas da indústria farmacêutica tiveram no momento inicial da pandemia, na primavera de 2020, uma vez que, em poucas semanas, “foi possível pôr de pé uma bateria de testes” de metedologia PCR de despiste do SARS-CoV-2.
João Almeida Lopes admitiu que, nesta altura, se verificaram “dificuldades de reagentes” para a realização destes testes, o que se deveu ao facto de a “Europa e Portugal terem sido apanhados de surpresa” pela dimensão da covid-19.
Na segunda-feira, a ministra Marta Temido revelou que o Ministério da Saúde está a avaliar junto da Direção-Geral da Saúde (DGS) o possível alargamento dos critérios para a realização de testes de diagnóstico ao novo coronavírus no rastreio de contactos.
“Neste momento, os testes são sobretudo preconizados para os contactos de alto risco e aquilo que pedimos que fosse avaliado tecnicamente era a possibilidade de o teste ser mais abrangente, independentemente do risco do contacto”, afirmou a governante numa conferência de imprensa, na qual fez um ponto de situação sobre o plano de vacinação contra a covid-19.
Portugal atingiu em janeiro um máximo de testes, que chegou a ultrapassar “os 77 mil num determinado dia”, segundo a ministra da Saúde, que reiterou que a posição do Ministério é a de que “não podemos deixar cair o número de testes”, mesmo perante um abrandamento da situação epidemiológica no país.
“Sabemos que um número elevado de testes é a melhor forma de garantir que mesmo com uma epidemia que parece estar a decrescer, nós continuamos a detetar o mais precocemente possível todos os casos”, frisou, sublinhando: “Temos de intensificar o esforço do lado da oferta para continuar precocemente a identificar muitos casos”.
Em Portugal, morreram 14.557 pessoas dos 770.502 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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