Num estudo publicado na revista Nature, um grupo de arqueólogos dá a conhecer evidências de ruínas de duas cidades medievais que encontrou nas montanhas do leste do Uzbequistão.

De acordo com a BBC, os investigadores descobriram as duas cidades, que ficavam ao longo de um importante cruzamento de rotas comerciais, conhecidas pela troca de bens e ideias entre o Oriente e o Ocidente, a chamada "Rota das Sedas".

Liderada pelo arqueólogo Farhod Maksudov, diretor do Centro Nacional de Arqueologia do Uzbequistão, e por Michael Frachetti, arqueólogo da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos da América, a investigação foi realizada com a utilização de drones e de uma ferramenta de sensoriamento remoto, que usa luz refletida para criar mapeamentos tridimensionais do ambiente.

Uma das cidades encontradas seria Tashbulak, com 12 hectares e situada a 2.200 metros acima do nível do mar, que foi descoberta, em 2011, pela equipa, enquanto fazia trekking nas montanhas. Durante as caminhadas, os investigadores encontraram locais de sepultamento, milhares de cacos de cerâmica e outros sinais de que o território era povoado, além dos registos históricos já conhecidos.

Quatros anos depois da primeira descoberta, um funcionário florestal avisou a equipa para estudar outro local.

"O funcionário disse 'acho que tenho algum deste tipo de cerâmica (encontrado em Tashbulak) no meu quintal', então fomos até casa dele. Lá descobrimos que a sua casa foi construída numa cidade medieval. Era como se ele vivesse numa cidade enorme", contou o arqueólogo Frachetti.

Ali teria sido Tugunbulak, uma metrópole com, pelo menos, 120 hectares, que também ficava a mais de 2.000 metros de altitude.

A equipa acredita que as duas cidades foram assentamentos movimentados entre os séculos VIII e XI, durante a Idade Média, quando a área era controlada por uma dinastia turca.

Em 2022, a equipa voltou ao local com um drone equipado com um sensor, que ajudou a delinear as superfícies e a revelar muros, torres de guarda, características arquitectónicas complexas e outras fortificações em Tugunbulak.

Maksudov e Frachetti sugerem que as comunidades podem ter escolhido ficar em Tugunbulak e Tashbulak para aproveitar os ventos fortes e alimentar as fogueiras necessárias para fundir minérios de ferro, nos quais a região era rica.

Inclusive, escavações preliminares revelaram alguns fornos de produção. "Quem tinha ferro nas mãos na época medieval era muito poderoso", disse Farhod Maksudov.

Por outro lado, os arqueólogos acreditam que os ventos fortes podem ter obrigado, mais tarde, as comunidades a deslocarem-se, uma vez que a área costumava ser coberta de floresta de zimbro: "A área tornou-se ambientalmente muito instável por causa das enchentes repentinas e das avalanches", referiu o arqueólogo.

À publicação, Michael Frachetti confidenciou que a caminhada até ao local onde encontraram as ruínas foi difícil devido aos ventos fortes e tempestades, mas que a parte mais desafiadora nesta investigação foi convencer a comunidade académica de que ali existiam mesmo ruínas de cidades medievais.

"Dizíamos às pessoas que tínhamos encontrado este local incrível e recebíamos ceticismo, ou diziam que talvez não fosse tão grande, ou que fosse apenas um monte, ou um castelo. O grande desafio foi documentar estas cidades cientificamente para realmente ilustrar o que elas eram", concluiu.