“Foram demolidas 10/11 casas em construção, desabitadas, embora os moradores dessas casas já estejam há algum tempo a viver naquela zona, em casas contíguas, de familiares”, disse à agência Lusa o padre Constantino Alves, pároco da Bela Vista, que ainda tentou travar o processo junto do IHRU, mas sem êxito.
“As pessoas foram apanhadas de surpresa hoje de manhã, cerca das 08:30, com a chegada das máquinas e de um forte aparto policial”, acrescentou Constantino Alves.
Cerca de 20 famílias residentes em construções clandestinas na Quinta da Parvoíce, em Setúbal, foram notificadas pelo IHRU para abandonarem as habitações precárias onde viveram até à passada segunda-feira, mas o instituto público acabou por dizer mais tarde que iria apenas demolir as construções clandestinas desabitadas.
Segundo afirmou hoje o Padre Constantino Alves, além de demolirem as casas em construção e desabitadas, os responsáveis pela operação procederam também à demolição de duas divisões - cozinhas e casas de banho que estavam a ser construídas junto a duas casas habitadas -, pelo que os moradores dessas duas casas ficaram confinados ao espaço exíguo que já tinham anteriormente.
Durante a operação de demolição, que demorou cerca de duas horas, ainda houve uma tentativa de demover o IHRU, proprietário dos terrenos em causa, mas os esforços do padre Constantino Alves e do advogado Manuel Guerra Henriques revelaram-se infrutíferos.
O advogado Manuel Guerra Henriques, que há cerca de cinco anos também acompanhou o processo de demolição das construções clandestinas na antiga fábrica Mecânica Setubalense, mesmo ao lado da denominada Quinta da Parvoíce, tinha interposto esta semana uma providência cautelar no Tribunal de Setúbal, para tentar impedir as demolições, que acabaram, no entanto, por acontecer antes de o tribunal se pronunciar.
Para o padre Constantino Alves, a prioridade deve ser encontrar uma solução condigna para as cerca de 20 famílias que vivem em condições de grande precariedade na Quinta da Parvoíce e, nesse sentido, está prevista para a próxima segunda-feira uma reunião de diversas entidades religiosas, designadamente da Cáritas Diocesana e do Bispo de Setúbal, com a presidente do IHRU.
“Esperemos que este encontro, que deverá ter lugar em Setúbal, seja o detonador para que as diferentes entidades públicas encontrem uma solução para o realojamento das duas dezenas de famílias que vivem em condições precárias na Quinta da Parvoíce”, disse o padre Constantino Alves.
Num comunicado divulgado na quarta-feira, o IHRU indicava que a operação em Setúbal não “envolve a demolição de quaisquer construções habitadas".
"O que está em causa é a demolição de construções precárias, sem segurança estrutural, que estão a ser feitas em terrenos próximos daquela quinta, instáveis e inaptos para construção, que integram a Reserva Ecológica Nacional", acrescentava o documento.
O IHRU explicava que, "estando em risco a segurança de pessoas e a saúde pública, não pode deixar de tomar as medidas que se revelam necessárias para, em articulação com as demais entidades públicas competentes, conter aquela situação" e reitera que "as intervenções que estão previstas não envolvem o desalojamento de quaisquer famílias".
A agência Lusa questionou hoje o IHRU sobre a possibilidade de uma nova intervenção para a demolição das casas habitadas e realojamento dos moradores da Quinta da Parvoíce, mas ainda não obteve resposta.
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