“Eu acredito que vai correr bem. Portugal tem uma história de adesão à vacinação que é das melhores do mundo. Temos taxas de cobertura vacinal muito elevadas e temos jovens responsáveis”, afirmou Válter Fonseca, em entrevista à agência Lusa.

O responsável da Direção-Geral da Saúde (DGS) disse que todos os portugueses, mais e menos jovens, sentiram o impacto da pandemia nas suas vidas – “quer enquanto pessoas, quer em sociedade” - e está convicto de que “todos querem ultrapassar esta situação”.

“Havendo hoje a possibilidade de vacinar a população e, com isso, controlar esta pandemia, todos nós certamente queremos que isto seja ultrapassado com a maior rapidez possível. Juntando esta perceção, que os jovens têm, com o que é a nossa tradição de elevadas coberturas vacinais em Portugal, penso que temos tudo para termos sucesso na vacinação nesta fase”, afirmou.

Questionado sobre se seria uma boa estratégia para acelerar o processo optar por vacinar os rapazes com a vacina da Janssen, de toma única, em vez de uma vacina de duas doses, o responsável respondeu: “Se nós começarmos a ter apenas uma vacina para esta situação, começamos a complexificar o processo”.

“Acho que o que faz sentido é usarmos todas as armas que temos”, afirmou o especialista da DGS, lembrando que “todas as vacinas contra a covid-19 são, quando têm o esquema completo, eficazes para prevenir a doença sintomática, a hospitalização e a morte”.

Sublinhando que todas as vacinas disponíveis conseguem o objetivo de “controlar a pandemia e prevenir a doença grave”, Válter Fonseca insistiu: “Devemos utilizar todas as armas que temos para todas as faixas etárias onde elas estão recomendadas”.

O coordenador da comissão técnica insistiu na efetividade e segurança das vacinas, mesmo perante a variante delta, com maior capacidade de contágio, explicando: “A primeira dose confere alguma proteção, sobretudo para casos de hospitalização mais graves. Mesmo para a variante delta, os estudos mostraram que, para mortalidade e para hospitalização, uma dose continua a ter grande impacto de prevenção”.

“O esforço deve ser esquema completo (…) e quanto mais depressa for feito, melhor”, afirmou o responsável, que defendeu que a rapidez não deve ser atingida à conta de qualquer redução do período entre doses.

“A existência de um intervalo adequado, do ponto de vista imunológico e clínico, permite termos certeza do que vai acontecer a seguir à segunda dose. Não é só ter a 2.ª dose o mais depressa possível. É ter a 2.ª dose o mais depressa possível, mas num intervalo estudado e que nos faz atingir aquilo que queremos: duração da imunidade e elevada efetividade”, concluiu.

Vacinação tem "impacto imenso" na quebra da mortalidade

O coordenador da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 defendeu hoje que os números da pandemia em Portugal mostram um “impacto imenso” das vacinas no sistema de saúde e na mortalidade.

Em entrevista à agência Lusa, Válter Fonseca sublinhou as diferenças na atual vaga de covid-19 em Portugal: “Nesta vaga da pandemia (…) estamos a ver um aumento da incidência, o número de novos casos, mas não estamos a ter, neste momento, o acompanhar dessa curva de incidência com uma subida expressiva das hospitalizações nem de mortalidade”.

“Isto é um impacto extraordinário da vacinação contra a covid-19. As curvas [agora] afastam-se, enquanto, no passado, havia uma curva de incidência, algum tempo depois subia a curva de hospitalizações e, mais tarde, a curva de mortalidade”, explicou.

Neste momento – prosseguiu –, “começamos a ver uma tendência de separação destas curvas, o que nos diz que, mesmo com as variantes mais preocupantes, como a delta, em Portugal, as vacinas estão a ter um impacto imenso no sistema de saúde e na mortalidade das pessoas”.

Válter Fonseca insistiu que as vacinas são eficazes e seguras, protegendo contra a doença grave e hospitalização (entre 90% a 95%), mas também diminuindo a transmissão, embora com níveis diferentes.

“Os dados que temos hoje disponíveis, que resultam sobretudo do Reino Unido, que é o país que tem mais história e cobertura vacinal contra a covid-19, mostram que estas vacinas também têm um impacto na transmissão do vírus, mas não nos valores que vimos para a mortalidade e doença grave”, afirmou o especialista.

À medida que o tempo passa, acrescentou, “começamos a conhecer melhor como é que as vacinas se comportam nos resultados sobre a infeção assintomática e sobre a transmissão. É sempre mais difícil estudar estes últimos resultados do que os primeiros [mortalidade e hospitalização]”.

“Os primeiros [relativos à mortalidade e hospitalizações] são diretos, objetivos, enquanto os outros [relativos à proteção contra a infeção assintomática e a transmissão] precisam de estudos mais complexos”, acrescentou.

Questionado sobre alguma incerteza que ainda existe sobre a proteção reativamente à variante delta, o responsável afirmou: “Estamos a analisar o verdadeiro impacto desta variante relativamente à efetividade vacinal para que depois se possam tomar as medidas certas para o futuro. Até lá as regras mantêm-se”.

“O que não quer dizer (…) que não haja total confiança nas vacinas. As vacinas são eficazes e estão a fazer o seu trabalho. Basta olharmos todos os dias para os nossos números em Portugal”, acrescentou.

Sobre o futuro, e questionado a propósito da hipótese de uma eventual terceira dose de vacina, ou sobre quais as opções que a Direção-Geral da Saúde tem em análise, Válter Fonseca respondeu: “Todas as hipóteses são estudadas”.

“É muito cedo para podermos dizer o que vai acontecer em termos de doses adicionais. A primeira razão para isso é que não temos ainda o nosso objetivo atingido: vacinar com o esquema completo todas as faixas adultas”, afirmou.

Questionado sobre a necessidade de ser necessária uma terceira dose da vacina contra a covid-19, o especialista respondeu: “Para tomar uma decisão sobre a necessidade de uma terceira dose precisamos de dados que não são ainda hoje conhecidos, nomeadamente, o que é que acontece à duração da imunidade conferida pelas vacinas”.

“Até ao momento, os dados que temos indicam que a imunidade conferida pela vacina se tem vindo a manter e tem conseguido enfrentar novas variantes, mantendo a proteção das pessoas”, afirmou Válter Fonseca, insistindo: ”Temos de esperar mais algum tempo, manter o nosso objetivo e acompanhar a evolução do conhecimento”.

Regras para isolar vacinados podem ser adaptadas

As autoridades de saúde admitem adaptar as medidas de isolamento para os vacinados contra a covid-19 que têm contactos de risco, mas lembram que sempre foi possível antecipar este período, com um teste negativo ao 10.º dia.

“Em Portugal o período de isolamento é de 14 dias. Desde há meses, começando-se a compreender melhor o período de incubação da infeção, foi dada a possibilidade de, numa avaliação individual, as autoridades de saúde poderem, perante teste negativo ao 10.º dia, terminar o isolamento nesse dia”, explicou o coordenador da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19.

Em entrevista à agência Lusa, questionado sobre se as autoridades equacionavam alterar as medidas a cumprir por quem tem um contacto de risco, mesmo estando vacinado, o responsável afirmou: “Essa possibilidade de avaliação de caso de risco, caso a caso, sempre foi possível”.

“Efetivamente, são estes dados ainda em análise, sobre o verdadeiro impacto na transmissão e sobre como se comporta a situação epidemiológica com a variante delta (…), que nos podem fazer adaptar as medidas recomendadas para as pessoas vacinadas”, acrescentou.

O primeiro-ministro, António Costa, que tem o esquema vacinal completo, saiu na passada segunda-feira de um isolamento, que durou 10 dias, após ter tido um contacto considerado de risco.

Esta medida motivou críticas às autoridades de saúde e um pedido de explicações por parte do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre este tipo de situação.

*Por Susana Oliveira, da agência Lusa.