Em comunicado enviado às redações, a associação Acreditar apela para que não se “descure o que tem sido feito até agora nos serviços de oncologia pediátrica” e para que não se proceda a um “desinvestimento nesta área”.

Dado que têm um “sistema imunitário mais enfraquecido”, os jovens e crianças com cancro “têm um maior risco de contrair infeções e menor capacidade para as combater” e por essa razão, a Acreditar apresentou uma série de preocupações face ao impacto da pandemia provocada pelo novo coronavírus na oncologia pediátrica.

Uma das primeiras questões levantadas é a possibilidade de os diagnósticos estarem a “ser ignorados”. “Com os recursos desviados para a Covid-19, os adiamentos de consultas e tratamentos já estão a acontecer com os adultos” e tal poderá “acabar por chegar à pediatria”, explica a Associação.

Com “consultas e exames que não são considerados urgentes” a serem adiados, as implicações que se esperam são “diagnósticos tardios” e “tratamentos mais agressivos”, que poderão “agravar sequelas ou mesmo colocar em risco a sobrevivência” do doente.

A associação sublinha também que a oncologia pediátrica é um setor “sem investimento há muito” e receia que os “recursos direcionados para o combate à Covid-19” possam colocar “em causa a procura de tratamentos menos invasivos e de novos tratamentos para crianças e jovens".

A situação financeira das famílias dos doentes também é um motivo de preocupação para a associação. Segundo a Acreditar, as famílias já têm “perdas económicas consideráveis com o diagnóstico”, o “acréscimo de despesas” e a “perda de rendimentos”. Porém, com a crise económica que se avizinha devido à pandemia e com o facto de estas crianças e jovens terem de continuar em “confinamento”, enquanto não existir “uma qualquer imunidade de grupo”, a situação financeira destas famílias ir-se-á agravar.

Para além das questões financeiras, o facto de as juntas médicas estarem “suspensas até finais de junho” impossibilita o acesso ao Atestado Médico Multiuso, assim como a sua renovação — o que  contribui para uma “perda de benefícios, que só este documento garante a doentes com determinados graus de incapacidade”, explica a associação.

O acesso à escolaridade também é outra das questões apresentadas pela Acreditar no comunicado enviado às redações. A associação ressalva que — embora o ensino à distância tenha “proporcionado respostas às necessidades que as crianças e jovens com doença oncológica deveriam ter” — ainda há muitos alunos que “não têm condições de saúde” para assistir às aulas, dado estarem “demasiado debilitados”, o que leva a que percam “aulas que não são repetidas”. Para além das questões de saúde, também há as questões económicas, uma vez que continuam a existir crianças e jovens sem computador ou acesso à internet. No que diz respeito a esta situação, a associação diz ter feito um levantamento para aferir quantas famílias se encontram nestas condições e afirma que foi possível colmatar “algumas situações identificadas”.

Segundo a Acreditar, o regresso físico às aulas “volta a trazer problemas”, uma vez que se terá de depender da “disponibilidade dos agrupamentos escolares” para a manutenção do “acompanhamento à distância”.“Estes alunos não estão em desconfinamento, terão de continuar isolados”, afirma a associação, que receia que se esteja a “dar um passo atrás” e a “voltar a colocar os alunos ao sabor de recursos disponíveis nas escolas”, assim como “da boa vontade” e de “muitas diligências " por parte da "tutela”.

No comunicado, a associação sublinha ainda que o facto de o cancro pediátrico   que conta com cerca de “400 novos casos por ano” e com uma taxa de mortalidade de 20% —  ser uma  “área atípica e rara” tem contribuído para a “indiferença de várias entidades estatais” e que tal se traduz na na falta de “ajuda para despesas acrescidas “ — como a compra de Equipamentos de Proteção Individual para a execução de testes de despiste da Covid-19 —  assim como de “apoio social”.

“Todos estes problemas se colocam agora e num futuro que não sabemos quando acaba. (…) Não podemos continuar a adiar medidas que garantem melhores tratamentos, acesso igual a direitos e uma melhor sobrevivência”, conclui a Acreditar.