Ana Jacinto comentava em declarações à Lusa o anúncio do primeiro-ministro, António Costa, na segunda-feira em entrevista à TVI de que o Governo vai aprovar um pacote específico de apoio à restauração dos concelhos mais atingidos pela covid-19, procurando compensar a receita que estes estabelecimentos vão perder nos dois próximos fins de semana.
“Tudo o que vier é bem-vindo, agora não é suficiente. Estamos a falar de uma medida que o senhor primeiro-ministro avançou para fazer o equilíbrio das perdas ao fim de semana, mas isto é muito curto face à dimensão e aos prejuízos que estas empresas já vinham sentido. É muito pouco e é muito insuficiente”, disse.
De acordo com a secretária-geral da AHRESP, todas as medidas que possam ajudar o setor são uma boa notícia, mas a situação das empresas é muito grave.
“A direção da AHRESP reuniu de urgência e decidiu pedir ao primeiro-ministro uma reunião para discutirmos o que está a acontecer. Fizemos também uma carta aberta já tornada pública chamando a atenção para a necessidade de aplicação do plano de emergência e estamos disponíveis para discutir todas a soluções”, disse.
Ana Jacinto lembrou que o primeiro inquérito feito pela AHRESP respeitante a outubro ainda não tinha o impacto destas últimas medidas e o retrato do setor já era dramático.
“Na restauração, 41% das empresas ponderavam avançar para insolvência, 43% registaram quebras homólogas de faturação acima dos 60% e 47% já fizeram despedimentos. Se olharmos para o alojamento turístico, o cenário não é melhor: 36% registaram quebras homólogas de faturação acima dos 90% e 19% ponderam avançar para a insolvência”, frisou.
Segundo a secretária-geral da AHRESP, as últimas medidas ainda não impactaram e só vão agravar ainda mais a situação do setor.
“Não é por encontrar uma medida, que ajuda aos fins de semana, que reduz o impacto que estes setores estão a ter e que não é igual a outros setores de atividade económica. Também por isso, a economia não deve ser ajudada de igual forma”, disse.
Ana Jacinto sublinha que a AHRESP não contesta nenhuma das medidas de caráter sanitário.
“Acreditamos que não são tomadas de ânimo leve. Nós não as contestamos, acreditamos que são cruciais para tentar travar a pandemia. Agora é preciso haver equilíbrio com a economia e isso não está a acontecer”, disse.
A medida do executivo socialista, que será aprovada ainda esta semana, foi transmitida por António Costa em entrevista à TVI, depois de interrogado sobre as consequências económicas para os setores da restauração e da hotelaria resultantes das restrições de circulação que vão ser aplicadas nos dois próximos fins de semana nos concelhos mais atingidos pela covid-19.
Nesta entrevista, que coincidiu com o primeiro dia de vigência do estado de emergência, o primeiro-ministro reconheceu que a restauração tem sido muito atingida do ponto de vista económico e referiu que as medidas já tomadas pelo seu executivo na semana passada, com um valor global ordem dos 1550 milhões de euros, são em grande parte a fundo perdido e destinam-se a micro e pequenas, muitas delas da restauração.
“Vamos agora anunciar esta semana um pacote específico para apoiar as empresas da restauração relativamente ao que vão perder de receita nos próximos dois fins de semana”, declarou o líder do executivo.
Segundo António Costa, o “e-fatura” do Portal das Finanças permite saber qual é a receita de cada restaurante, ou durante o último ano, ou no último fim de semana em que há dados disponíveis.
“Portanto, podemos saber qual é a receita que cada um tem e que teoricamente vai perder. Vamos fazer a média (pode ser a média do ano, pode ser só o mês de outubro), mas não está fixado o critério”, advertiu.
Ainda sobre esta linha específica de apoio financeiro, António Costa acrescentou que vai falar com as associações da restauração ao longo desta semana e defendeu que este setor tem uma situação distinta em relação à hotelaria ou a lojas de roupa, porque nos restaurantes a perda pelo encerramento “é absoluta”.
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