“Desde que a associação foi criada [janeiro] reuníamos em coletividades, em garagens ou em nossas casas. Assim passaremos a dispor de um espaço próprio e será uma enorme ajuda para o nosso trabalho”, referiu à Lusa Joaquim Ramos, presidente da Associação de vítimas de ‘Legionella’ e também ele uma vitima.

Em novembro de 2014, o concelho de Vila Franca de Xira, no distrito de Lisboa, foi afetado por um surto de 'legionella', que causou 12 mortes e infetou 375 pessoas com a bactéria.

De acordo com o balanço feito na altura, as vítimas mortais tinham entre 43 e 89 anos, sendo a taxa de letalidade do surto de 3,2%.

A sede da associação, que está a ser alvo de uma intervenção por parte da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, vai ficar localizada no bairro da Soda Póvoa na localidade do Forte da Casa, uma das zonas do concelho mais afetadas pelo surto.

As obras representam um investimento de cerca de 18 mil euros e deverão estar concluídas no início do mês de dezembro.

Joaquim Ramos sublinhou que a associação pretende desenvolver trabalhos de investigação e de esclarecimento sobre a ‘legionella’ de forma a prevenir a ocorrência de surtos.

“Este tem de ser um trabalho de prevenção porque a partir do momento em que a doença é transmitida não há volta a dar. Eu fui uma das vítimas e a minha vida mudou radicalmente. Antes fazia tudo e sem qualquer problema e hoje com qualquer coisa fico cansado”, queixou-se.

Em março deste ano, foi proferida uma acusação do Ministério Público (MP) que indiciou sete pessoas e duas empresas (a Adubos de Portugal e uma firma responsável pelo tratamento de água) pelos crimes de infração de regras de conservação e ofensas à integridade física.

O MP sustenta que o surto de ‘legionella’ no concelho de Vila Franca de Xira foi causado pela "manifesta falta de cuidado” dos arguidos, que não cumpriram “um conjunto de regras e técnicas na conservação/manutenção” de uma das torres de refrigeração da ADP.

No entanto, o MP só conseguiu apurar nexo de causalidade em 73 das pessoas afetadas e em oito das 12 vítimas mortais.

Inconformada com esta acusação, a associação de apoio às vítimas do surto de 'legionella' de Vila Franca de Xira decidiu requerer a abertura de instrução do processo e avançar com uma ação popular contra o Estado, aguardando agora por uma decisão do tribunal.

O surto, o terceiro com mais casos em todo o mundo, teve início a 07 de novembro e foi controlado em duas semanas. Na ocasião, o então ministro da Saúde, Paulo Macedo, realçou a resposta dos hospitais, que "trataram mais de 300 pneumonias".

A doença do legionário, provocada pela bactéria 'legionella pneumophila', contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.