Um grupo de portuguesas vítimas de violência doméstica recebeu hoje em Londres a visita da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, e da apresentadora de televisão Catarina Furtado, no âmbito do projeto da Respeito.
A visita enquadrou-se num programa da Respeito junto da comunidade portuguesa na capital britânica em parceria com a Corações com Coroa, fundada e presidida por Catarina Furtado, e que tem financiamento do governo português.
Rosa Monteiro defendeu ser importante conhecer a implementação do projeto, que procura ajudar as mulheres a saírem de relações abusivas providenciando ajuda psicossocial e informação sobre apoios existentes dos serviços britânicos.
“Quando pensamos na situação destas mulheres, temos de perceber que são migrantes económicas. Na esmagadora maioria dos casos, vieram procurar em Londres uma vida melhor, mais autónoma, uma vida de trabalho que garantisse a sua subsistência e das suas crianças, e que trouxeram consigo não só os problemas económicos mas, em alguns dos casos, problemas de relações violentas com agressores”, referiu.
Os testemunhos que escutou hoje, revelou, deram conta de “mudanças radicais” de vida que, em alguns casos, poderiam ter um desfecho fatal.
“É o duplo fardo de ser mulher, com tudo o que isso já tem de vulnerabilidade e de discriminação, situações de violência e relações abusivas, com estas dificuldades de vir para um país e sentir as dificuldades de acesso aos serviços, de acesso aos direitos. Este é um trabalho de cidadania fundamental”, defendeu a secretária de Estado.
Uma das dirigentes da Respeito, Maria João Nogueira, disse à agência Lusa que até agora, a associação já interagiu com 150 pessoas e que o programa em curso já ultrapassou as 35 que tinha como objetivo, apesar de ainda faltarem quatro meses para a conclusão.
“O que nós fazemos é a ponte entre os serviços britânicos existentes para as pessoas que têm dificuldade com a língua. Depois, os próprios serviços da violência doméstica tornam a passar-nos os utentes, porque ajudas como abrir contas de bancos ou arranjar casa, quando as pessoas não falam inglês, é muito difícil, sobretudo quando estão em crise ou pós-crise”, explicou.
Porém, a diferença está na “relação pessoal” que a equipa da Respeito estabelece para as beneficiárias, sentirem que estão a ser acompanhadas, enfatizou: “Não estamos atrás de um guiché, estamos em contacto com as nossas beneficiárias e a criar um relacionamento e a empoderá-las de forma a que não necessitem mais dos nossos serviços”.
Uma das mulheres que participaram no encontro, que apenas quis identificar-se como F. e não quis relatar o caso pessoal que a levou a procurar ajuda, contou que está em contacto com a Respeito há quatro anos e que ficou surpreendida por encontrar pessoas conhecidas na mesma situação.
“Primeiro, gostei muito de saber que havia uma pessoa que eu já conhecia. E depois, as ajudas que eu tive a nível de terapeutas e de ‘counselling’ [acompanhamento], foi muito bom saber que a pessoa falaria português, porque posso expressar-me muito melhor em português e sei que há uma empatia na forma como uma portuguesa pensa para outra portuguesa”, confiou.
Para Catarina Furtado, as histórias que escutou foram “fortíssimas”, “dolorosas para quem partilha, ainda por cima, com pessoas desconhecidas”.
“São histórias que nos levam a acreditar que é muito superficial quando falamos da vida dos outros sem saber exatamente o que se passa na família e na vida daquela pessoa. Naturalmente que uma pessoa emancipada, uma pessoa empoderada, com as ferramentas todas, diria que não aguentaria 25 anos de violência doméstica. É fácil dizer: mas por que é que não te foste embora?”, admite.
O que uma dezena de mulheres contou hoje, resumiu, foram “histórias da vida que contextualizam tudo o que pode acontecer de dramático dentro de uma situação perpetuada de violência doméstica. Que não se resume apenas ao medo, resume-se à própria coragem de ficar pelos filhos”.
Catarina Furtado manifestou o interesse em manter a Corações com Coroa a fazer projetos fora de Portugal, em particular com a Respeito.
O projeto “Igualdade e Empoderamento – Voluntariado, Intervenção Cívica e Acompanhamento às Famílias”, financiado com 62 mil euros por 12 meses, é considerado um “projeto piloto” pela secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade para conhecer melhor a realidade das mulheres portuguesas nas comunidades que vivem isoladas no país de acolhimento.
“Estas redes que se proporcionam a partir deste projeto são fundamentais para que sintam mais apoiadas e sintam onde é que podem pedir ajuda”, sublinhou Rosa Monteiro.
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