Foi no sábado que veio a público a denúncia da SOS Racismo: um grupo organizado protagonizou vários ataques contra imigrantes residentes na cidade do Porto.
Ao longo deste domingo têm sido várias as reações ao sucedido.
O que aconteceu?
Na madrugada de sexta-feira, a PSP foi alertada cerca da 01:00 para uma agressão no Campo 24 de agosto, no Porto, contra dois imigrantes por um grupo de quatro ou cinco homens que fugiu antes da chegada dos agentes, especificou o porta-voz da polícia, indicando que os dois agredidos foram assistidos no Hospital São João.
Cerca de 10 minutos mais tarde, na Rua do Bonfim, 10 imigrantes foram atacados, na habitação onde estavam, por um grupo de 10 homens, munidos com paus e, alegadamente, com uma arma de fogo, o que a PSP ainda não conseguiu confirmar, referiu a mesma fonte.
Ainda segundo o porta-voz, pelas 03:00, na Rua Fernandes Tomás, outro imigrante foi também agredido, por outros suspeitos, sendo que um deles usava uma arma de fogo.
Na sequência destas agressões, seis homens foram identificados e um foi detido por posse de arma ilegal, tendo sido presente a tribunal e ficado em prisão preventiva. Dada a suspeita de existência de crime de ódio, o assunto transitou para a Polícia Judiciária.
O que diz a SOS Racismo?
Mais de 100 pessoas concentraram-se na noite de ontem em frente à Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, para protestar contra o racismo e a xenofobia.
“Juntámos aqui um grupo significativo de pessoas, inclusive muitas pessoas imigrantes, o que nem sempre acontece. É um sinal de que se sentem protegidos connosco”, disse à agência Lusa Joana Cabral, do SOS Racismo.
Segundo a ativista, estavam de forma pacífica no local “entre 100 a 200 pessoas”, que chegaram a entoar a canção do 25 de Abril “Grândola Vila Morena”.
O local onde decorreu a manifestação foi escolhido por ser a “zona onde ocorreram os atos de violência” contra os imigrantes, explicou.
Segundo Joana Cabral, outras associações de defesa dos imigrantes juntaram-se ao SOS Racismo numa ação que pretendeu “defender os direitos das pessoas imigrantes que, infelizmente, neste momento não têm outra forma de ver os seus direitos defendidos”.
A ativista disse ainda não aceitar “que se instrumentalize uma ideia de associação entre a criminalidade e a imigração” e que se use “esse pretexto para legitimar milícias populares”. Referindo-se aos atos de violência cometidos contra os imigrantes, defendeu que “são para investigar pela polícia e pela justiça”.
Quais as reações a estes episódios de agressão?
- O primeiro-ministro, Luís Montenegro, condenou, em seu nome e do Governo, os “ataques racistas” contra imigrantes no Porto e defendeu que deve existir “tolerância zero ao ódio e violência xenófoba”.
- O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condenou os “ataques racistas” e salientou que a violência racial e a xenofobia não têm lugar na sociedade portuguesa.
- O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, condenou veementemente as agressões e acusou a extrema-direita de incentivar o ódio, difundindo mentiras.
- A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, garantiu que "há uma tolerância zero ao racismo" e que o "infame ataque a imigrantes não é admissível e não representa o povo português".
- A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, condenou as agressões a imigrantes no Porto, considerando que a legitimação do discurso racista com a eleição de deputados de extrema-direita favorece estes atos violentos, e defendeu que é importante combater o racismo.
- O cabeça de lista da CDU ao Parlamento Europeu, João Oliveira, defendeu que as agressões a imigrantes são “acontecimentos intoleráveis” que decorrem do ideário de forças políticas antidemocráticas.
- O líder do Chega, André Ventura, condenou a violência e os crimes de ódio contra imigrantes e sugeriu que o que aconteceu no Porto pode estar relacionado com “ataques e roubos” na cidade, pedindo explicações à ministra da Administração Interna.
- O presidente da Junta de Freguesia do Bonfim, onde na madrugada de sexta-feira ocorreram os ataques contra migrantes no Porto, condenou os "atos de justiça popular" e disse esperar que as investigações policiais sejam céleres.
*Com Lusa
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