Fernando Santos e a mulher, ambos com 80 anos, sentados numa paragem junto ao Centro Comercial Colombo, à espera do 799, disseram à agência Lusa que já “estão habituados a esperar”.

“Atrasam muito [os autocarros]. No fim de semana fomos à Expo, queríamos apanhar o 750, mas os autocarros simplesmente não paravam. Era hora do almoço, não sei se eles iam almoçar… Só o quarto é que parou. Estivemos quase uma hora à espera”, disse Fernando Santos.

Além dos atrasos, o casal queixou-se também da falta de autocarros ao fim de semana, o que os obriga a ficar em casa.

A residir em Alfragide, Horácio Saraiva assegurou que “todos os dias a carreira 54 tem problemas” e que “às 07:00 já faltam autocarros”.

“A essa hora ainda não há trânsito, por isso, não podem dar essa desculpa. Os motoristas dizem que são as ordens que têm. Com frequência tenho de ir a pé de Alfragide para a Buraca para apanhar o autocarro para Benfica”, contou à Lusa.

Uma passageira frequente da Carris, que pediu para não ser identificada, acusou a empresa de “não cumprir horários de forma geral e, por vezes, sonegar autocarros”.

Segundo a passageira, “no placard diz que faltam 10 minutos e não vem nenhum. Só vem um passados uns 15-20 minutos e é o autocarro seguinte”.

“Aos fins de semana e feriados há muito poucos autocarros. Chegamos a estar três quartos de hora à espera e não sabemos quando vem algum”, acrescentou esta cliente, que já teve de chamar táxis por causa dos atrasos.

Contactada pela Lusa, Cecília Sales, da Plataforma das Comissões de Utentes da Carris, disse que as “queixas são recorrentes nos últimos anos” e que se nota “uma grande degradação” do serviço com “mudanças de paragens sem avisar” e “grandes tempos de espera”.

“Não fizeram o investimento necessário nos últimos anos e depois são estes os resultados. Muito lesivos para os utentes que pagam passe e não é tão pouco quanto isso”, afirmou.

Cecília Sales disse, ainda, que não há carreiras onde os problemas sejam mais visíveis que noutras, porque a “má gestão” da Carris “abrange a cidade toda”.

Para Manuel Leal, da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (FECTRANS), “houve, na última década um conjunto de medidas concretas que conduziram a esta situação: o processo para a privatização da empresa, a destruição do setor oficinal com a criação da Carrisbus (…) e a saída de um grande número de motoristas, não tendo as admissões compensado minimamente”.

Exemplificando com o 728, o sindicalista disse que “tem um conjunto de 28 autocarros a fazer a carreira. Num dia são retirados três, quatro autocarros. A mesma situação repete-se em outras carreiras da Carris. Depende da falta de motoristas que têm, dos autocarros que a manutenção consegue garantir para fazer os serviços e a própria falta de autocarros que a Carris tem hoje”.

Segundo Manuel Leal, a Carris precisava de mais 150 motoristas e guarda-freios para assegurar o serviço.

A Câmara de Lisboa, que vai gerir a Carris a partir de janeiro de 2017, “acompanha a preocupação do sindicato pelo estado em que se encontram os transportes” e disse à Lusa estar certa que "será possível melhorar o serviço, reconquistar a confiança dos lisboetas no serviço prestado e ter mais cidadãos a andar de transporte público”.

Por seu lado, a Carris atribuiu os atrasos aos “condicionalismos rodoviários de natureza diversa, desde os estacionamentos indevidos a acidentes na via pública que sucedem no dia-a-dia”.

“As obras de repavimentação/reordenamento que se encontram em curso em vários pontos da cidade de Lisboa contribuem, também, para naturais constrangimentos de circulação”, acrescentou a empresa à agência Lusa.

Admitindo que houve uma “política de desinvestimento” nos últimos anos, a Carris lembrou que já iniciou o processo de contratação de 75 novos motoristas e está a ponderar contratar mais profissionais, bem como adquirir novos autocarros.