A atriz, de 59 anos, esteve presente em tribunal do estado de Manhattan esta quinta-feira e relatou ao júri que se tornou dependente do medicamento Valium (um antidepressivo) depois de Weinstein a ter agredido sexualmente numa noite do inverno entre os anos 1993-1994. De acordo com o seu testemunho, este terá entrado à força no seu apartamento de Gramercy Park, em Manhattan.

"Foi tão desagradável que o meu corpo começou a tremer de uma maneira pouco comum. Eu nem sabia o que estava acontecer", disse, erguendo os braços e segurando os pulsos para mostrar ao júri como Weinstein a dominou. "Ele empurrou-me até à cama (...). Subiu para cima de mim e violou-me", contou.

"Ele disse-lhe alguma coisa?", perguntou a procuradora Joan Illuzzi-Orbon. "Disse o meu timing é perfeito", respondeu Sciorra, secando as lágrimas. Weinstein terá dito "isto é para ti" e praticou sexo oral contra a sua vontade.

Sciorra afirmou que a violação a deixou traumatizada e deprimida, além de ter começado a consumir grandes quantidades de álcool e a ter tendências suicidas.

Segundo a atriz, depois desse encontro, o produtor tentou entrar novamente num quarto de hotel onde se encontrava, desta feita em Londres, mas que já não permitiu que ele entrasse. Porém, Weinstein voltaria a fazer nova investida em 1997, durante o Festival de Cannes, quando tentou entrar num quarto de hotel onde estava hospedada. Neste episódio, quando o produtor apareceu — de robe e com uma garrafa de óleo para bebés nas mãos — Sciorra pediu ajuda "e ele foi-se embora".

"Eu temia pela minha vida"

Sciorra guardou segredo sobre o sucedido durante anos. "Eu queria fingir que nunca tinha acontecido (...) Naquele tempo eu pensava que uma violação era algo que acontecia num beco, por alguém que não conhecemos".

Sciorra referiu que ficou demasiado assustada para chamar a polícia e que só contou a sua história em outubro de 2017 ao jornalista Ronan Farrow da revista The New Yorker.

A atriz acrescentou que meses antes foi contactada por um alegado jornalista que, pensava ela, trabalhava para Weinstein. "Eu temia pela minha vida", afirmou.

Weinstein, de 67 anos, é acusado de praticar sexo oral com a ex-assistente de produção Mimi Hailey contra a sua vontade em 2006 e de violar a atriz Jessica Mann em 2013.

Uma atriz profissional

A procuradoria espera que o depoimento de Sciorra ajude a convencer o júri de que o acusado é um predador sexual. Isto porque a alegada violação ocorreu há várias décadas e o crime prescreveu — não fazendo, por isso, parte do processo.

Para convencer o júri, é necessário demonstrar que Weinstein — que se diz inocente e que as suas relações foram consensuais — atacou sexualmente pelo menos duas pessoas.

Se for considerado culpado pelos crimes dos quais é acusado, o ex-produtor de filmes pode enfrentar uma sentença máxima de prisão perpétua.

A principal advogada da defesa de Weinstein, Donna Rotunno, fez o contrainterrogatório tentando semear dúvidas sobre o depoimento e a credibilidade da atriz, testemunha chave no caso.

Voltando ao relato de Sciorra, a advogada deu ênfase às aparentes inconsistências e imprecisões, como as datas da suposta agressão e os outros encontros com Weinstein citados por Sciorra.

Rotunno salientou que a testemunha é "uma atriz profissional", acostumada apresentar-se como alguém "que não é". O seu contra-interrogatório, educado, mas firme, deve continuar nesta quinta-feira.

Durante as suas alegações iniciais na quarta-feira, o advogado de Weinstein, Damon Cheronis, disse que Sciorra contou uma vez que ficou "louca" com Weinstein. "Ela não descreveu o encontro como sendo violação porque não foi", afirmou.

Mais de 80 mulheres denunciaram Weinstein por assédio, agressão sexual ou violação desde o escândalo dos seus supostos abusos em outubro de 2017.

No entanto, a maioria dos crimes prescreveu e Weinstein só será julgado pelos alegados ataques contra Haleyi e Mann.