Em entrevista ao jornal Público, publicada hoje, Santos Silva destacou duas grandes prioridades para a União Europeia: segurança e economia. No que toca à primeira, manifestou cautela quando à política de “cooperação estruturada permanente” na área da Defesa, que já está a ser discutida e foi recentemente reforçada pelo Presidente francês, Emmanuel Macron.
“Estamos a tocar no núcleo duro, não apenas da soberania, mas da identidade nacional. Devemos ir com muito cuidado se não queremos dar lenha para a fogueira nacionalista (…) Às vezes o voluntarismo excessivo alimenta o antieuropeísmo”, alertou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros recordou a meta de 2% para gastos com a Defesa definida para a NATO. “Serve-nos de referência para avançar nesse sentido até 2024. Vamos ver com cuidado quais as metas que vão ser postas em cima da mesa na ‘cooperação estruturada permanente’ (…) Entendemos que temos de ir com realismo”, comentou.
Questionado sobre esta hesitação, Santos Silva apontou para uma postura diferente deste Governo em relação aos anteriores: “Durante muito tempo, a nossa conduta, que por vezes foi designada de ‘bom aluno’, éramos os primeiros a dizer que sim a tudo o que viesse de Bruxelas. Continuamos tão europeus como éramos, mas menos ingénuos. É preciso ver com cuidado como vai ser configurada esta cooperação”.
Na entrevista ao jornal Público, o ministro falou também sobre as eleições alemãs, dizendo-se surpreendido “negativamente com a expressão eleitoral atingida pela Alternativa para a Alemanha (AfD), “porque é uma força tipicamente antieuropeísta e também por razões que têm que ver com a história política da Alemanha”.
Quanto à possibilidade de a chanceler Angela Merkel se coligar com o Partido Liberal da Alemanha, que pode ter uma postura mais rígida no que toca às questões da zona Euro, Santos Silva afirmou que Portugal terá de “convencer alguns membros do próximo Governo alemão”, tal como o fez com o atual ministro das Finanças, de que é “contra uma ‘união de transferências’, contra a ideia de que cabe a uns manter a disciplina orçamental para compensar os desmandos dos outros”.
Sobre Macron, Santos Silva considerou que a sua postura “dá uma energia de que a Europa precisava”, mas alertou para a importância da “prudência alemã”.
“Precisamos de inspiração, mas também daquela sageza e do sentido práticos dos alemães”, afirmou.
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