“Sinceramente não consegui ainda identificar essa situação. (…) Estou a tentar apurar com as distritais respetivas e com os mandatários se houve algum processo de erro e se houve confusão na entrega das listas. Estou a tentar que, depois de apurada a situação (...) ainda seja possível judicialmente resolver o problema”, afirmou em declarações aos jornalistas no Porto, onde reagiu às suspeitas de violação da lei eleitoral.

O JN avança hoje que o partido de André Ventura entregou candidaturas autárquicas a 220 dos 308 concelhos do país - o dobro alcançado por partidos como o Bloco de Esquerda – havendo, contudo, suspeitas de violação da lei eleitoral nas listas do partido, que tem candidatos cujos nomes se repetem em pelo menos em dois concelhos: Valpaços e Chaves.

A lei diz que “nenhum cidadão pode candidatar-se simultaneamente a órgãos representativos de autarquias locais territorialmente integradas em municípios diferentes”.

Ventura sublinhou que para um partido “que não tem três anos” o “feito histórico” alcançado pelo Chega ao apresentar-se às eleições autárquicas de 26 de setembro com 220 candidaturas, pode gerar “precipitações” e um “avolumar de trabalho muito grande”.

O presidente do partido acredita, contudo, que este caso não ameaça a representação do Chega nas eleições autárquicas de setembro.

“Acho que, a acontecer, será numa câmara ou noutra, ou em duas ou três, em 220 não será. A informação de que disponho agora é que nos principais centros urbanos, onde também há mais votos, tem corrido tudo bem e as candidaturas foram aceites e estão a ser processadas formalmente de forma correta. Isso significa que a noite eleitoral de 26 de setembro permitirá efetivamente ser um barómetro sobre se o Chega consegue ou não ser a terceira força política à frente do Bloco de Esquerda. É isso que eu espero”, declarou

André Ventura participou hoje numa ação contra "as restrições e falta de apoios, o certificado de vacinação, e a destruição da Economia Portuguesa" que reuniu no Porto, junto à reitoria da Universidade do Porto, na Praça dos Leões, cerca de duas centenas de pessoas.

No local, foi instalado um camião onde discursaram várias figuras do partido, e onde o líder se dirigiu, entre outros, aos militantes presentes, quase duas horas depois da hora marcada para a ação (17:30), comunicada como uma manifestação.

Em declarações aos jornalistas, André Ventura reiterou o ataque à gestão socialista da pandemia de covid-19, acusando o Governo de António Costa de estar a promover um “apartheid sanitário”.

“Esta exigência absurda de certificados e estas restrições absurdas que o Governo socialista nos está a impor em matéria de retoma da vida social, quer na restauração, quer na hotelaria, estão a prejudicar imensamente a economia portuguesa e a distinguir cidadãos entre vacinados e não vacinados”, afirmou.

Salientando que este é um movimento que está a ser levado a cabo em toda a Europa, Ventura avisou que o verão vai ser “muito quente nesta matéria”, porque o Chega não pode “pactuar” com o rol de exigências do Governo socialista, que “com o consenso do PSD quer impor a Portugal”.

“Se, como disse António Costa, estamos a falar da libertação de Portugal, então ele que não o faça para as eleições autárquicas em setembro. Que o faça mesmo porque Portugal precisa disso, que acabe com as restrições absurdas de horários, que acabe com as restrições absurdas de se entrar nos sítios com certificado, que acabe com a situação aberrante de funcionários de restaurante a fazerem testes à porta dos estabelecimentos”, defendeu.

Questionado pelos jornalistas, André Ventura revelou não ter sido ainda vacinado, decisão que, sublinhou, é pessoal.

O deputado único do partido referiu, contudo, que o partido não é contra as vacinas, não pode é aceitar que haja distinção entre vacinados e não vacinados.

“Isso seria o mesmo que tornar a vacina obrigatória e em Portugal não pode haver vacinas obrigatórias. O que o Governo está a fazer ao dizer só entram na restauração ou nos hotéis os vacinados, o que está a dizer é que é obrigatório”, disse, acrescentando que “isto é uma sacanice política”.

Ventura comentou ainda a notícia avançada hoje pelo Expresso de que estão a aderir ao Chega membros do Portugal Hammerskins (PHS), organização neonazi ligada à morte de Alcindo Monteiro em 1995 e ao espancamento de negros, homossexuais e comunistas.

Segundo fontes judiciais e de várias polícias, são sobretudo os mais antigos, muitos com passado de violência, os que decidiram vincular-se ao partido liderado por André Ventura.

“A minha história política é conhecida, a história que eu quero para o Chega é uma história de rutura, assertividade e de oposição. Não queremos ter nada a ver com movimentos de natureza violenta ou racista de qualquer tipo”, afirmou, salientando que, como partido com maior crescimento, não são apenas “essas pessoas que se estão a aproximar”.

Ventura defende que o partido quer um modelo que nada tenha a ver com estes movimentos, sejam eles de direita ou de esquerda, tendo criado uma Comissão de Ética para afastar quem viole as regras.