"Ninguém esperará ver na CDU bengala para apoio a políticas, a opções ou a orçamentos que são globalmente lesivos do interesse da cidade", garantiu João Ferreira, sem descartar a possibilidade de ajudar a formar uma maioria de esquerda na Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito das eleições autárquicas deste ano, a realizar em setembro ou outubro.
Na apresentação da candidatura, que decorreu no Museu de Lisboa, o vereador e eurodeputado do PCP propôs "uma governação democrática capaz de assegurar uma cidade viva, bela e justa", assegurando que a CDU, coligação que junta PCP e PEV, é um espaço de convergência "de todos os que não desistem de lutar pelo direito à cidade".
"Nestas eleições, o voto útil é aquele que contribuiu para encontrar respostas para os problemas que Lisboa enfrenta", avançou o candidato da CDU, destacando a especulação imobiliária, a sobreposição do interesse privado ao interesse público e as desigualdades no acesso à habitação, ao emprego, à mobilidade, aos serviços públicos, à cultura, ao desporto e ao lazer.
Apresentando-se como "uma alternativa à alternância, ao longo destes 20 anos, que se tem verificado entre PSD/CDS e PS", João Ferreira disse que a CDU tem "uma candidatura forte", com um projeto "conhecedor da cidade", de quem tem trabalhado há muitos anos, "mesmo em minoria", no executivo do município de Lisboa.
"Ninguém contará connosco para a troco de eventuais responsabilidades num futuro executivo caucionar políticas que como está à vista não deram bom resultado. Isto não impede que não tenhamos sempre uma postura construtiva e que não estejamos preparados para exercer todas as responsabilidades, incluindo naturalmente a presidência da Câmara Municipal. As condições para essa governação democrática da cidade vão depender dos resultados das eleições", afirmou o candidato comunista, em resposta aos jornalistas.
O executivo da Câmara de Lisboa é atualmente composto por oito eleitos pelo PS (no qual se incluem os Cidadãos por Lisboa), um do BE (que tem um acordo de governação do concelho com os socialistas), quatro do CDS-PP, dois do PSD e dois da CDU.
Considerando que nos últimos anos a CDU foi "uma oposição exigente, atenta, crítica, mas também construtiva", com a apresentação de "inúmeras propostas" e com o apoio a iniciativas positivas, inclusive da atual maioria, João Ferreira reforçou que há problemas que carecem de resposta "e que a pandemia veio deixar mais expostos".
"O efeito avassalador da especulação imobiliária na cidade ao longo destes últimos anos, aquilo que é uma política urbanística e de planeamento da cidade que deixa nas mãos do mercado todo o desenvolvimento da cidade, isso são aspetos essenciais da atual gestão que marcam negativamente a vida na cidade hoje", apontou o candidato da CDU.
Sobre a decisão de ser substituído no cargo de eurodeputado do PCP, João Ferreira lembrou que completa 12 anos nessas funções e que é um período "suficientemente largo para ser tempo de dar a vez a outro", referindo que "é também uma evolução e um percurso natural".
"Só mostra que existem, felizmente, quadros e gente na CDU capaz, competente, com capacidade para assumir estes cargos”, sustentou o comunista, que vai ser substituído a partir de julho no Parlamento Europeu por João Pimenta Lopes.
“Concentrar-me-ei no trabalho que temos a fazer em Lisboa”, frisou João Ferreira, adiantando que a acumulação de funções de eurodeputado e vereador, ao longo dos últimos anos, "resultou até numa relação benéfica" para a intervenção em Lisboa.
Questionado sobre o número de candidaturas a cargos políticos, o comunista recusou a ideia de ser permanentemente candidato, recordando que esta é a terceira vez que concorre à presidência da Câmara de Lisboa, o que quer dizer que foi feito "um bom trabalho" e que se aprendeu com ele para apresentar "um projeto ainda melhor".
"Talvez seja mais interessante perguntarmos porque é alguns rodam permanentemente de candidatos", comentou.
Nas autárquicas mais recentes para a Câmara de Lisboa, em 2017, a CDU obteve 9,55% dos votos (24.110) e dois vereadores.
Nesse ano, o PS manteve a liderança da autarquia, com a lista encabeçada pelo socialista Fernando Medina a conquistar oito mandatos, insuficientes, porém, para assegurar a maioria absoluta.
João Ferreira é eurodeputado do PCP desde 2009, sendo vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verdes Nórdica (GUE/NGL) e vereador da CDU na Câmara de Lisboa desde 2013.
Esta é a sexta candidatura de João Ferreira pela CDU desde 2013, quando encabeçou, pela primeira vez, a lista para a Câmara de Lisboa, candidatura que repetiu em 2017 e de novo este ano. Em 2014 e 2019 foi 'número 1' da CDU às europeias e já este ano concorreu às eleições presidenciais de janeiro, com o apoio de comunistas e verdes.
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