“Na Europa, em alguns setores, existe uma atitude negativa face aos Estados Unidos. Face a tudo o que vem dos Estados Unidos. E acho que é um erro, porque há diferenças entre os Estados Unidos e a Europa, mas basicamente precisamos de ter um mercado conjunto. As oportunidades para o crescimento e o emprego são enormes”, considerou Durão Barroso no decorrer de uma conferência na Web Summit, que decorre em Lisboa.
A ida de José Manuel Durão Barroso para o banco de investimento Goldman Sachs suscitou muitas críticas, incluindo de líderes europeus como o presidente francês, François Hollande, e uma petição impulsionada por funcionários das instituições europeias, que reuniu mais de 150 mil assinaturas, a reclamar “medidas fortes” para pôr fim à chamada “porta giratória” em Bruxelas (a passagem de antigos comissários para cargos no setor privado que coloquem em causa a reputação das instituições da UE).
Durão Barroso, que foi presidente da Comissão entre 2004 e 2014, assinou pelo Goldman Sachs após um período de “nojo” superior a 18 meses, respeitando assim a regra em vigor na Comissão Europeia.
“Como sabe, a Comissão Europeia acaba de salientar que eu respeitei todas as regras éticas. Mas o próprio facto de a questão ter sido levantada mostra uma atitude negativa de muita gente face à finança internacional e, neste caso, uma instituição norte-americana. E mostra que ainda há muitas atitudes negativas culturais na Europa contra o novo mundo, o mundo financeiro, o mundo integrado e global em que vivemos”, salientou o antigo primeiro-ministro português.
O antigo chefe do executivo comunitário (de 2004 a 2014) reiterou que é um erro a atitude de alguns setores da Europa face ao mundo da Finança, ao qual agora pertence.
“Acho que é um erro porque, neste mundo de transformação digital, precisamos de um contributo mais inovador da Finança. Muitas das ‘startups’ que foram um sucesso nos Estados Unidos prosperaram porque tinham ‘venture capital’ (capital de risco)”, disse Barroso, acrescentando que os Estados Unidos “investiram 20 vezes mais [neste setor] do que na Europa”.
Só agora, a Europa “está a construir essa capacidade financeira para apoiar as ‘startups’, um ambiente amigável para o investimento”, disse.
O atual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, pretende alargar de um ano e meio para três anos este período de “nojo” durante o qual o presidente do órgão executivo da União Europeia tem de pedir permissão ao ex-empregador para trabalhar para grupo privado.
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